Impactos das superbactérias na saúde pública e caminhos a seguir para mitigar riscos

A medicina é composta por diversas áreas, cada uma com suas especificidades. Há aquelas mais conhecidas pela população, como oncologia, ortopedia e ginecologia, mas existem diversas outras ramificações. Muitas, inclusive, são correlatas, o que pode trazer uma grande dúvida à população sobre a quem recorrer para cuidar de sua saúde. Diante de um cenário em que a pandemia de Covid-19 persiste em todo mundo há cerca de dois anos, uma especialidade agora tem ganhado mais destaque: a infectologia.

“Em linhas gerais, essa é uma área medicinal focada nos cuidados e estudos de doenças infecto-contagiosas, sejam causadas por vírus, bactérias, fungos, protozoários ou vírion. São esses profissionais que estão na linha de frente de tratamentos de doenças como a Covid-19, H1N1, dengue, peste, raiva, febre amarela, dentre outras”, explica o Dr. Hugo Morales, médico infectologista, diretor médico e cofundador da startup Laura, que utiliza a Inteligência Artificial para a coordenação dos cuidados com a saúde dentro e fora dos hospitais.

Apesar da pandemia de SARS-COV-2 ser algo de extrema preocupação para a saúde pública ao redor do globo, existe uma epidemia global silenciosa rodando em paralelo, que é tão preocupante e perigosa quanto o Coronavírus: as superbactérias e sua resistência aos antibióticos. De acordo com estudos da Organização das Nações Unidas – a ONU -, estima-se que, por ano, mais de 700 mil pessoas morram por conta dessa resistência e, a partir de 2050, os números devem chegar à alarmante marca de 10 milhões de óbitos.

Pensando em auxiliar a população a entender e mitigar os riscos, convidamos Morales para explicar as principais dúvidas sobre o tema. Confira abaixo.

O que são as superbactérias e por que elas são perigosas?

As superbactérias são aquelas que, através de uma seleção natural, adquirem genes de resistência à múltiplas classes de antibióticos, tornando cada vez mais difícil o cuidado e o tratamento adequado das infecções causadas por elas. Sendo assim, a infecção por essas bactérias apresenta um grande desafio por limitar as opções terapêuticas. Há, inclusive, bactérias que são resistentes a todas as classes de antibiótico. Por esse motivo, esses quadros podem ser graves, podendo levar até mesmo à morte.

Como elas se tornam resistentes aos medicamentos?

A resistência aos antimicrobianos tem aumentado muito por causa do uso abusivo do medicamento. Isso se deve, pois, as bactérias se reproduzem de uma forma muito rápida (a cada 20 minutos, em média), e a cada vez que ela tem uma reprodução, podem ocorrer mutações. A maioria dessas mutações não deixam a bactéria “mais poderosa”, inclusive são maléficas à própria bactéria. Contudo, algumas mutações podem conferir resistência aos antibióticos.

Então, quando temos essas bactérias que estão resistentes com a mutação e expomos ao antibiótico, matamos todas as bactérias sensíveis e só prevalecem aquelas que têm resistência na sua genética. E é justamente por isso que o uso abusivo é perigoso, pois há uma seleção bacteriana no organismo. Mas é importante entender que a causa da resistência é multifatorial e sistêmica, passando desde falhas no saneamento básico até o uso indiscriminado do antibiótico no setor agropecuário.

As bactérias sempre são as vilãs?

Existem muitas bactérias que são benéficas para nosso organismo. Inclusive, a maioria absoluta das bactérias são “boazinhas”. Para se ter uma ideia, há mais bactérias que células humanas em nosso corpo e elas têm funções fundamentais, como a contribuição na digestão de alimentos e também na proteção contra bactérias patogênicas, por exemplo. Esse convívio em harmonia do nosso corpo com as bactérias é denominado de uma relação sinérgica.

Quando falamos de tomar um antimicrobiano (antibióticos), existe um grande risco de matar as bactérias comensais (“boazinhas”). Para exemplificar, imagine o seguinte cenário: você está com uma dor de garganta, pede a um médico prescrever um antibiótico para ajudar a curar. O problema é que esse medicamento não vai, especificamente, para sua garganta, mas, sim, tem uma absorção em todo organismo e se distribui no intestino, na pele e no pulmão, por exemplo.

O que pode acontecer é que se você tiver alguma bactéria resistente ou que tem uma mutação genética de resistência, o antimicrobiano vai selecionar e matar as bactérias sensíveis, e aquelas resistentes, irão permanecer. Além disso, o uso de antibiótico causa uma desarmonia na microbiota do intestino, fazendo com que algumas poucas bactérias prevaleçam. Isso torna o ambiente mais suscetível à infecções, por exemplo.

Quais soluções e medidas podem ser tomadas para diminuir o uso errado desses medicamentos?

A prescrição de antimicrobiano é um ato médico, então é fundamental uma análise do caso e pensar se aquele quadro clínico é realmente compatível com uma infecção bacteriana ou se tem outra causa (viral, por exemplo). Em casos de pacientes graves, deve-se iniciar o tratamento empírico imediato e realizar a coleta de culturas para tentar identificar a causa e a bactéria causadora. Já em outras infecções leves, pode-se realizar a investigação ou acompanhar a evolução do caso sem começar antibióticos. Para aumentar a chance de acerto terapêutico, é fundamental um profundo conhecimento do perfil de sensibilidade e os protocolos institucionais, de cada hospital.

Para isso, já existem algumas ferramentas tecnológicas no país que auxiliam médicos prescritores nas tomadas de decisões e gerenciamento de riscos. Um exemplo disso é a solução Laura Antimicrobial Stewardship – Powered by MSD, que utiliza Inteligência Artificial para medir e sinalizar piora clínica nos pacientes, bem como auxilia o Serviço de Controle de Infecção Hospitalar a entender os padrões de consumo de antimicrobianos e perfis de sensibilidade em tempo real.

Redação

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