Maior Centro de Pesquisa em Oncologia Pediátrica da América Latina, Boldrini completa dois anos

Mutações genéticas nunca vistas em cânceres de adultos são encontradas em 55% dos casos de câncer pediátrico, segundo dados do hospital americano John Hopkins, referência mundial em pesquisas científicas. Esse dado, por si só, retrata a importância de estudos voltados para a descoberta de tratamentos específicos para o câncer em crianças e em adolescentes – atividade à qual se dedica, há dois anos, o Centro de Pesquisa Boldrini (CPB), localizado na cidade de Campinas (SP).

Primeiro e único Centro de Pesquisa do Brasil a dedicar-se exclusivamente à pesquisa sobre câncer pediátrico, o CPB conecta cientistas, médicos e universidades para impulsionar a pesquisa de novos tratamentos e lidera, no Brasil, os bons resultados do tratamento contra o câncer pediátrico.

Para isso, o CPB tem como base o trabalho interdisciplinar, com o objetivo principal de viabilizar a tradução das ciências básicas e laboratoriais, em novas opções de tratamento para os pacientes, visando a cura e diminuição dos efeitos colaterais a longo prazo das terapias. Em 2020, o CPB foi convidado a integrar um Grupo Internacional de Farmacogenoma em Câncer da Criança (CPIC), com o objetivo maior de implantar o estudo do Farmacogenoma de toda criança com o diagnóstico de câncer, antes do início do tratamento, contribuindo-se assim para reduzir a incidência dos efeitos tóxicos agudos e a longo prazo, aumentar a eficácia das quimioterapias a serem utilizadas.

De enorme relevância será a implantação do Serviço de Protonterapia, modalidade de tratamento radioterápico com menores efeitos secundários das radiações que a criança recebe. Embora vários centros de Protonterapia já estejam em franco desenvolvimento nos países desenvolvidos, na América Latina este será o primeiro Serviço a ser implantado. O cronograma do desenvolvimento da nova construção predial e implantação dos equipamentos, tem a previsão de cinco anos para a sua conclusão.

Nesses dois anos de trabalho no Centro de Pesquisa (anteriormente uma equipe menor já trabalhava no próprio hospital Boldrini), o trabalho conduziu a descobertas que representaram grandes avanços na compreensão e no tratamento do câncer pediátrico, sobre a natureza e o contexto molecular, genético e de desenvolvimento dos cânceres da criança e do adolescente.

“Nosso objetivo é estreitar a distância do laboratório à clínica, transformando descobertas científicas em ensaios clínicos inovadores, que ofereçam aos pacientes pediátricos a melhor chance de uma vida adulta saudável. Nesse sentido, um Centro de Pesquisa especializado no câncer pediátrico e o intercâmbio com as universidades são fatores extremamente importantes para estudos promissores”, afirma o médico e pesquisador do CPB, Pedro Lima.

Os nove grupos de estudos do Centro de Pesquisa Boldrini englobam as áreas-chave mais avançadas em pesquisa científica em câncer: imunoterapia; anticorpos monoclonais terapêuticos; DNA circulante tumoral; tumores do sistema nervoso central; doença residual mínima, novas drogas; fatores ambientais e câncer pediátrico, informática e espectrometria de massa.

“Cabe ressaltar que os resultados obtidos aqui, como um todo, valem mais do que a soma de suas partes. A ciência colaborativa que se origina da troca entre os profissionais de pesquisa, médicos e universidades é maior do que as conquistas isoladas”, salienta Andrés Yunes, pesquisador do CPB.

Histórico no Tratamento de Leucemia – O Centro Infantil Boldrini tem um longo histórico de grandes descobertas e sucesso na melhoria do tratamento dos diferentes tipos de leucemia no Brasil. Suas pesquisas inovadoras foram traduzidas em protocolos de tratamentos de precisão em todo o país, com impacto nacional no diagnóstico, classificação e tratamento. São 42 anos de história, cerca de 10 mil pacientes com câncer atendidos e índices atuais de cura entre 70% e 80% – níveis alcançados nos principais centros internacionais.

O legado estende-se, hoje, ao Centro de Pesquisa Boldrini, que dá continuidade às pesquisas voltadas para neoplasias hematológicas que, apesar dos avanços mundiais nos tratamentos, ainda continuam sendo uma das principais causas de morte relacionadas aos cânceres da criança (leucemias).

Há seis anos, o Centro Infantil Boldrini foi convidado pela Organização Mundial da Saúde, a integrar o Consórcio Internacional de Coortes de Câncer da Criança (International Childhood Cancer Cohort Consortium/ ICCCC), estudo Epidemiológico envolvendo 8 países, voltado para a busca dos fatores ambientais relacionados ao câncer pediátrico. Serão estudadas um milhão de gestantes e seus filhos, sendo os mesmos acompanhados por um período de 18 anos. Campinas irá participar deste estudo, com 100.000 gestantes.

Retenção de talentos no país – O Centro de Pesquisa Boldrini tem como uma de suas metas primordiais contribuir para a atração e retenção de talentos interessados na investigação do câncer pediátrico, revertendo uma tendência já estabelecida de perda de pesquisadores promissores, a qual é altamente corrosiva para a consolidação da ciência e tecnologia nacionais. O Centro de Pesquisa criou seu próprio programa de suporte aos Jovens Pesquisadores, em colaboração com Agências Nacionais e Internacionais de fomento, acolhendo pesquisadores principais, jovens pesquisadores, doutorandos, pós-doutorandos, mestrandos, graduandos e técnicos de nível superior.

Natália Paiva, mestranda em Biologia na Unicamp, conta que, ao ingressar no Programa de Educação em Oncologia Pediátrica (PEOp) no Boldrini, em 2016, quando ainda estava na graduação, abriu seus olhos para a pesquisa e a guiou nas escolhas na carreira. “Participar do PEOp foi um divisor de águas para mim. Tive acesso ao mundo da pesquisa e soube que queria aprender mais e poder contribuir com a ciência, seguindo meus estudos nesse caminho. Com isso, parti para dois anos de iniciação científica com projetos ligados ao Boldrini e mais 1 ano de aprimoramento profissional na instituição. Hoje, trabalho na Unidade de Experimentação Animal do Centro de Pesquisa Boldrini e faço mestrado com foco na pesquisa de tumores ósseos, testando medicamentos para novas terapias. A pesquisa representa meu ideal de vida e carreira”.

Viabilização e construção do CPB – A construção do Centro de Pesquisa Boldrini teve início em 2014 e contou com investimento de R$ 50 milhões oriundos de recursos do Ministério Público do Trabalho provenientes da indenização do caso Shell-Basf; cerca de R$ 700 mil do Instituto Ronald McDonald para produção do projeto básico/executivo e aquisição de equipamentos para dois laboratórios; e com apoio das empresas parceiras.

Fundo Patrimonial – Espelhando-se na prática de tradicionais e consagradas instituições americanas como Harvard, Stanford, Princeton e Yale, o Centro de Pesquisa Boldrini adotou como método administrativo-financeiro o Fundo Patrimonial (Endowment Fund), de caráter privado e filantrópico, com a finalidade exclusiva para a pesquisa do câncer pediátrico, a fim de garantir a perpetuidade da instituição e, ao mesmo tempo, permitir que a administração não fique dependente de doações a curto prazo ou de auxílio do governo. É um Fundo Patrimonial que promoverá o desenvolvimento destas pesquisas, coordenadas pelo Boldrini, mas integrando diferentes instituições do Brasil ou da América Latina, com os grandes centros internacionais voltados ao câncer pediátrico. O CPB carrega a bandeira internacional da SIOP (Sociedade Internacional de Oncologia Pediátrica) de que Nenhuma Criança Deve Morrer de Câncer (No Child should die from Cancer).

Com este modelo, objetiva-se a geração de rendimentos financeiros que serão revertidos para oferecer aos pesquisadores suporte necessário ao desenvolvimento de seus estudos.
No caminho da profissionalização da gestão em instituições filantrópicas, o Centro de Pesquisa Boldrini firmou parceria com a Fundação Banco do Brasil para gestão do Fundo Patrimonial, o que fará por meio de Comitê de Investimentos próprio, composto por membros de expertise em Economia e Planejamento estratégico-financeiro, para posterior utilização dos rendimentos nos projetos do Centro de Pesquisa Boldrini.

“Apesar da escassez de recursos para pesquisa no Brasil, consonante com as dificuldades econômicas, sociais e políticas do momento pelo qual passa o país, conseguimos avançar. Desejamos que o Centro de Pesquisa Boldrini continue sendo a instituição que privilegia a criança e o adolescente , além de contribuir para a retenção de talentos no Brasil e para o desenvolvimento da ciência”, afirma a Dra. Silvia Brandalise, professora aposentada da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP e presidente do Centro Infantil Boldrini.

Saiba como Doar – A Fundação Banco do Brasil e o Centro Infantil Boldrini buscam captar recursos financeiros de doações voluntárias de pessoas físicas e jurídicas (nacionais/internacionais), com a finalidade específica de apoiar pesquisas de inovação para o combate do câncer infantojuvenil.

Conheça as formas de doação

Chave PIX: pix.boldrini@fbb.org.br
Transferência bancária:
Fundação Banco do Brasil CNPJ: 01.641.000/0001-33
Banco do Brasil S.A.: código 001
Agência: 1607-1
Conta corrente: 1502-4
boldrini.fbb.org.br

Os nove grupos de estudos do Centro de Pesquisa Boldrini englobam as áreas-chave mais avançadas em pesquisa científica em câncer pediátrico:

Estudo do DNA Circulante Tumoral – representa avanços na avaliação sobre como o paciente está respondendo ao tratamento. É possível visualizar eventuais mutações de genes envolvidos com a resistência aos tratamentos específicos, o que permite redirecionar a terapia da melhor maneira.

Estudo sobre o genoma dos Tumores do Sistema Nervoso Central – representa um grande desafio para a ciência mundial, uma vez que os tumores cerebrais ainda contribuem com as taxas de mortalidade relacionada ao câncer em crianças. Ao integrar as mais recentes tecnologias genômicas e epigenéticas dos tumores do sistema nervoso ainda em desenvolvimento, os pesquisadores estão evoluindo, com eficiência, nas descobertas de oportunidades para novos tratamentos.

Imunoterapia – programa de pesquisa voltado especificamente para desenvolver tratamentos com células do sistema imune ou anticorpos, para diferentes cânceres pediátricos. Hoje, os tratamentos imunoterápicos já estão disponíveis para câncer de cabeça e pescoço, linfoma de Hodgkin, pulmão, bexiga e mama triplo negativo, que são tipos predominantes em pacientes adultos. É urgente transpor este benefício terapêutico para os cânceres da criança e do adolescente.

A técnica estimula o organismo do paciente a identificar as células cancerosas e atacá-las, por meio de drogas que modificam a resposta imunológica. Isso é, em vez de mirar o câncer, os remédios imunoterápicos estimulam nossas defesas, para que elas mesmas detectem e destruam as células malignas do câncer.

Estudos de Anticorpos monoclonais terapêuticos – lidera esforços integrados e multidisciplinares, para definir caminhos para a produção de anticorpos monoclonais capazes de combater tipos específicos de células malignas.

Investigação de Doença Residual Mínima (DRM) nos pacientes portadores de leucemia, que consiste na quantificação de células neoplásicas remanescentes após a terapia e que não são detectáveis por métodos tradicionais de exames, como citologia ou exames de imagem. A prática está sendo cada vez mais utilizada na assistência médica, para definir o aumento ou a redução da intensidade dos tratamentos.

Novas Drogas – pesquisadores do CPB iniciaram este ano, um estudo que envolverá a análise de leucemias resistentes ao tratamento. O trabalho consiste na testagem de um painel de 147 medicamentos (já aprovados pelo FDA, a Agência Federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, responsável pela regulamentação de medicamentos no país e internacionalmente reconhecida), a fim de verificar sua eficácia no tratamento do câncer pediátrico.

O laboratório de Espectrometria de massa do Centro de Pesquisa Boldrini dedica-se à análise muito sensível e específica de identificação das estruturas moleculares dos medicamentos utilizados para o tratamento do câncer pediátrico. É possível verificar se as substâncias possuem impurezas, quantificaras doses encontradas e princípios ativos em questão, com o objetivo de assegurar a qualidade dos tratamentos.

Estudo Epidemiológico sobre o Meio Ambiente e Câncer da criança e do adolescente, integrando com vários centros internacionais, permitirá a médio/longo prazo se vislumbrar a possibilidade da identificação dos fatores associados ao câncer pediátrico e possível prevenção da doença.

Ciência, Tecnologia e Informação unem-se no Departamento de Informática do CPB. O poder do computador está transformando as ciências. A tecnologia física da pesquisa científica está nos novos microscópios eletrônicos, nos telescópios, nos coletores de partículas e agora são inseparáveis do poder de computação. São os computadores que permitem aos cientistas encontrar ordem e padrões na infinidade de informações brutas que as pesquisas reúnem. Sintetizam os dados e detectam padrões, tendências, discrepâncias e, por fim, oferecem uma visão do todo.

O poder do computador não apenas auxilia a pesquisa, mas define a natureza dela: o que pode ser estudado e quais as novas perguntas que poderão ser feitas e respondidas.

Redação

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