Mais de 40 milhões de profissionais da saúde pedem ao G20 que coloquem a saúde pública no centro da recuperação econômica

Mais de 40 milhões de médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde de 90 países diferentes, incluindo muitos dos que estão nas linhas de frente da pandemia de Covid-19, encaminharam uma carta hoje aos líderes do G20 com pedido para que a saúde pública seja colocada no centro dos pacotes de recuperação econômica, de maneira a evitar futuras crises e tornar o mundo mais resiliente a elas.

Na maior mobilização da comunidade de saúde desde as discussões em torno do Acordo de Paris sobre mudança do clima, mais de 200 associações médicas e grupos representando profissionais da saúde – incluindo a World Medical Association, o International Council of Nurses, a Commonwealth Nurses and Midwives Federation, a World Organization of Family Doctors, e a World Federation of Public Health Associations – assinaram a carta em nome de seus membros, ao lado de milhares de profissionais individuais de saúde.

Do Brasil, assinam a carta a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT), o Sindicato dos Nutricionistas do Estado de São Paulo (SINESP), a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), e a Federação Internacional das Associações dos Estudantes de Medicina do Brasil (IFMSA Brazil).

A carta pede aos governos que priorizem investimentos em saúde pública, ar limpo, água potável e um clima estável nos pacotes de estímulo econômico em discussão atualmente. Tais investimentos poderiam reduzir a poluição do ar e as emissões de gases de efeito estufa, que danificam a saúde humana, construir maior resiliência a futuras pandemias e, simultaneamente, criar mais empregos sustentáveis.

Para viabilizar essa recuperação saudável, os líderes dos países do G20 devem envolver a comunidade médica e científica no desenvolvimento dos pacotes de estímulo. Essas decisões sobre incentivos também devem considerar a avaliação médica e científica de como essas medidas podem impactar a saúde pública no curto e longo prazo.

A pandemia de Covid-19 expôs médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde à morte, doença e estresse mental em níveis não vistos em décadas. A escala dessa dor poderia ter sido parcialmente mitigada por investimentos adequados em preparação para pandemias, saúde pública e gestão ambiental, aponta a carta.

“Uma recuperação saudável reconhece que a saúde humana, a saúde econômica e a saúde planetária são intimamente conectadas. A pandemia nos demonstrou que uma recuperação econômica deve ser obtida de maneiras que fortaleçam a resiliência da saúde global”, afirma Jeni Miller, diretora executiva da Global Climate and Health Alliance. “Ao construir planos nacionais de recuperação com investimentos baseados em recursos públicos, os governos devem ter em mente essas relações cruciais, e eles não devem se deixar levar pelas corporações para enfraquecer padrões ambientais, o que pode afetar diretamente a saúde humana. Não é hora de voltarmos ao ‘business as usual’: é hora de tomarmos medidas ambiciosas para criar um futuro que projeta o planeta e as pessoas”.

Para os profissionais da saúde, os líderes devem aprender a partir desses erros e buscar uma recuperação que torne o mundo mais forte, saudável e resiliente. Os governos têm o poder para fazer essa transformação nos próximos 12 a 18 meses, dependendo de onde e como eles direcionarão trilhões de dólares em investimentos para a recuperação econômica. As reuniões internacionais que ainda acontecerão neste ano – como as cúpulas do G7 em 10 de junho, do Conselho Europeu em 18-19 de junho, do FMI e Banco Mundial em 16-18 de outubro, e do G20 em 21-22 de novembro – darão a esses líderes a oportunidade de, conjuntamente, colocarem a saúde pública no coração dos esforços de recuperação.

“Estamos vivendo simultaneamente duas grandes ameaças à saúde global, uma pandemia sem precedentes e a crise climática”, diz Dr. Nelson Gouveia, da ABRASCO. “As duas compartilham determinantes, têm impactos na economia e precisam de soluções sustentáveis e equitativas”.

“A pandemia de Covid-19 é um momento extremamente triste por todos aqueles que perdemos, mas essa dor também pode nos tornar mais sábios se entendermos que precisamos de resiliência para evitar desastres e perdas ainda maiores no futuro”, diz Dr. Enrique Barros, da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e da World Organization of Family Doctors. “É por isso que apoiamos uma recuperação econômica saudável para todos”.

Como a Covid-19 deixou claro, a economia sofre quando a saúde humana fica comprometida, aponta a carta.

A mensagem dos profissionais da saúde é que uma abordagem baseada na ciência para uma recuperação saudável da Covid-19 deve levar a decisões para reduzir tanto a poluição do ar, que enfraquece os pulmões, coração e outros órgãos, e emissões de gases de efeito estufa, que causam secas, calor extremo, enchentes, incêndios florestais e outros eventos que ameaçam a vida no planeta. Uma recuperação saudável requer que os governos invistam em indústrias, empregos, produção de alimentos e cadeias de suprimento sustentáveis e inovadores. Ao fazer isso, a comunidade mundial da saúde diz, os líderes encorajarão dietas mais saudáveis, mais energia renovável, mobilidade mais sustentável, transporte público de emissões zero, uma regeneração radical de árvores e da natureza, e outras mudanças que beneficiarão a saúde humana, econômica e planetária.

“Eu compartilho o sentimento dos profissionais da saúde ao redor do mundo: reconstruir uma sociedade saudável significa agir de maneira efetiva contra a crise climática”, reflete Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda, ex-Alta Comissária das Nações Unidas para Direitos Humanos e chair do grupo The Elders. “A Covid-19 nos mostrou as interconexões de nossas vulnerabilidades compartilhadas e demonstrou sem sombra de dúvida que a saúde pública e a proteção de nosso planeta estão inextricavelmente associadas”.

Redação

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