A oncologia é uma área bem particular da medicina que se apresenta em constante mudança. Nas últimas décadas, foram inúmeros os avanços em pesquisa e tecnologia que possibilitaram o melhor entendimento sobre o câncer desde a prevenção até o tratamento. Especialistas de todo o mundo têm voltado suas atenções à discussão de métodos diagnósticos inovadores, tecnologias terapêuticas modernas e aprimoramento da experiência e qualidade de vida de cada paciente.
O cuidado integral com o paciente prova ser um dos pilares primordiais para a conquista de melhores respostas terapêuticas. E é diante do desafio de promover a convergência desses diferentes focos estratégicos, pensando exclusivamente no atendimento dedicado aos pacientes oncológicos e suas famílias, que surge o que podemos chamar de oncologia personalizada.
Partimos da premissa de que é necessário compreender melhor cada indivíduo, suas particularidades e o perfil de sua doença. A ideia é planejar tratamentos personalizados, combinar drogas e protocolos adequados a cada caso. Dois pacientes com tumores similares, na mesma região, poderão receber tratamentos diferentes, respeitando um conjunto de fatores que levam em conta uma visão dele como indivíduo, suas características e expectativas particulares – e ainda assim obtendo resultados mais efetivos para ambos.
Em linha com essa nova filosofia e com a veloz mudança de paradigmas no tratamento do câncer, o conceito de divisão por supraespecialidades começa a ganhar força e contornos dentro do contexto de padrão assistencial. O modelo é de fato ainda incipiente no Brasil, mas as experiências internacionais provam ser o caminho para uma medicina verdadeiramente personalizada no combate ao câncer.
O atendimento por supraespecialidades se baseia na linha de cuidado integral de um determinado tipo de tumor por uma equipe composta por profissionais capacitados e especializados naquela patologia específica. O modelo de atendimento por supraespecialidades permite ao paciente estar em contato próximo aos profissionais mais atualizados e dedicados a sua doença, o que torna possível colocar em prática os resultados mais inovadores e modernos das últimas pesquisas. Além de ganhos em relação à eficácia dos tratamentos, a experiência individual de cada paciente tratado nesse modelo é incrementada. Todos os funcionários do núcleo de supraespecialidade, desde a recepção ao médico, passando pelo corpo multidisciplinar composto por enfermeiros, nutricionista, psicólogo e farmacêutico, formam um time único e especializado que será responsável por toda a jornada do paciente, considerando-o como um ser singular e próximo.
Um estudo do Instituto de Pesquisa do Câncer do Reino Unido, um dos países que conseguiram reduzir a mortalidade por câncer consideravelmente na última década, reforça a percepção de que tal abordagem na conduta oncológica traz resultados positivos aos pacientes. A análise aponta justamente na direção de um tratamento multidisciplinar centrado no paciente. Embora a prevenção e o diagnóstico precoce continuem imprescindíveis, os avanços científicos dos últimos anos, que apostam em técnicas cada vez mais personalizadas, têm feito diferença. Entre os britânicos, as taxas de mortalidade (reincidência após cinco anos) foram reduzidas em 20% nas mulheres e 27% nos homens.
Em linha com esse macro-movimento, a divisão de atendimento por núcleos de especialidade também ajudará a influenciar e melhorar o tratamento oncológico dispensado aos brasileiros, contribuindo como base de dados nacionais a partir de pesquisas baseadas em dados consistentes e apurados no dia a dia da prática clínica e devidamente catalogados para geração de um mapa da realidade do câncer no país. Essa iniciativa gerará dados que permitam sugerir novas estratégias de acesso à população brasileira dentro de todos os contextos da nossa realidade.
E é justamente essa união entre uma assistência de qualidade e a possibilidade de pesquisa clínica que torna possível hoje no Brasil desempenharmos as melhores práticas de cuidado oncológico, para contribuir na com a jornada de combate à doença dos pacientes.