Os desafios da desospitalização

O processo de alta segura deve ter início no momento da internação do paciente e é fundamental que familiares e cuidadores sejam treinados para o tão esperado momento de voltar com o paciente para casa. O alerta foi feito pela nutricionista especialista em Cuidados Paliativos, Flávia Fonseca, na palestra de abertura do I Simpósio de Desospitalização do Hospital São Francisco na Providência de Deus (HSF-RJ), intitulada ‘Gerenciando o processo de desospitalização’. Em sua fala, ela ainda destacou a importância do envolvimento de uma equipe multidisciplinar no processo de desospitalização. De acordo com a especialista, todos os agentes devem atuar de forma a treinar o próprio paciente e seus familiares e acompanhantes para que a alta seja, de fato, segura. “Capacitar cuidadores e familiares significa empoderar essas pessoas. E é importante que a orientação de alta não seja prestada no momento da saída do paciente. Essa comunicação tem que ser feita ao longo da internação, de forma clara, para reduzir o risco de complicações. O cuidador deve ser treinado para identificar problemas”, salienta.

A programação contou ainda com a mesa-redonda ‘O olhar da equipe multidisciplinar perante a desospitalização’, que reuniu profissionais de diversas áreas. A médica Ana Chermont, coordenadora médica do Solar Cuidados em Saúde, empresa voltada à atenção e internação domiciliar, salientou a importância da criação de uma rede social de suporte para a continuação do cuidado em casa e da organização de um ambiente seguro não só para o paciente como para a equipe que irá acompanhá-lo durante o processo de reabilitação. A fonoaudióloga Letícia Figueiredo, que tem pós-graduação em gerontologia, destacou que a especialidade é responsável por auxiliar o paciente a se comunicar e também a se alimentar. Ela também falou sobre a importância do trabalho conjunto da equipe multidisciplinar no pós-alta: “Não adianta querer servir sopa a um paciente que não gosta de sopa. É preciso adaptar a dieta ao que o paciente deseja”. A terapeuta ocupacional Denise Basseti, que também é pós-graduada em gerontologia, falou sobre sua atuação dedicada a desenvolver autonomia e independência dos pacientes. “Nesse sentido, passo orientações às famílias em relação à adaptação de talheres para que o paciente possa se alimentar sozinho e também ao vestuário, pois muitos não conseguem usar roupas de botão, então sugerimos a troca por velcro, por exemplo. A fisioterapeuta Julia Ferrari lembrou que a desospitalização proporciona ao paciente a possibilidade do resgate de sua vida social, por estar de volta em seu ambiente domiciliar.

A importância da participação da família no processo de desospitalização e organização da nova rotina familiar foi o tema tratado pela psicóloga Larissa Genaro, mestre em saúde mental, e pela assistente social Fabiana Correia, pós-graduada em Geriatria e Gerontologia. “Esse preparo da família para a nova realidade do paciente que retorna à casa é fundamental. Pela minha experiência, é possível perceber que a sociedade não tem preparo físico, cultural e emocional para esse cuidado, que no caso de pacientes idosos vai até o fim da vida. Nós não fomos criados para encarar e lidar com doenças. É uma realidade difícil e é preciso dialogar, discutir o dia a dia e orientar, ou seja, temos que trazer a família para dentro do cuidado”, afirmou Fabiana. A palestra ‘Cuidados e adaptação do domicílio no pós-alta’, apresentada pela enfermeira especialista em Estomaterapia, Eide Nascimento, encerrou a programação do evento.

A gerente de enfermagem Michelle Estefânio, integrante da comissão de organização do evento, comemorou a realização do I Simpósio. “Ficamos muito satisfeitos com o público que participou da nossa programação. Atingimos nosso objetivo de trazer a mensagem de que a desospitalização é um processo importante, que deve ser feito de forma segura e humanizada, e para isso contamos com profissionais convidados de diversas áreas. Já estamos ansiosos para a realização do 2º Seminário sobre o tema, no ano que vem”, disse.

O evento contou ainda com a participação do diretor geral da unidade, Frei Isaac Prudêncio, que agradeceu a troca proporcionada pelos especialistas convidados e destacou que a desospitalização segura e humanizada é um desafio que deve ser encarado por uma equipe multidisciplinar comprometida com a continuidade do cuidado ao paciente.

O I Simpósio de Desospitalização do Hospital São Francisco na Providência de Deus contou com o patrocínio de Nestlé, Multinep e Coloplast.

Redação

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