“A população não está realizando exames clínicos e laboratoriais básicos como forma de prevenção, mas sim de diagnóstico”. A frase, de Wilson Shcolnik, presidente da SBPC/ML – Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial refere-se aos resultados de uma pesquisa encomendada pela entidade. De acordo com ela, 72% dos pacientes com doenças crônicas só descobriram o problema após o aparecimento de sintomas.
Realizada entre os dias 28 de março e 7 de abril deste ano, nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, a pesquisa revela, ainda, que:
Shcolnik lembra que os testes descartam ou confirmam hipóteses de diagnóstico, apontam para a necessidade de uma investigação mais detalhada, auxiliam os especialistas em ações que podem evitar a manifestação da doença ou mesmo diagnosticá-la de forma mais precoce, aumentando as chances de tratamento e cura. “A ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar estima que pacientes doentes custam sete vezes mais do que um paciente saudável na mesma faixa etária. E estudo da UFSCAR – Universidade Federal de São Carlos aponta que doenças que só possuem alterações laboratoriais, sem manifestar sintomas, têm chance de cura de 90%. Conclui-se que a realização de exames preventivos é menos onerosa ao sistema de assistência à saúde e mais benéfica ao paciente”, completa o presidente da SBPC/ML.
OVERUSE X UNDERUSE
Segundo Shcolnik, os depoimentos de diversas autoridades do setor que constantemente insinuam o desperdício de exames não apresentam evidências. “Os gastos em saúde no que tange à Medicina Laboratorial, segundo dados de literatura científica internacional, não ultrapassam 3% do total. Em contrapartida, a especialidade médica responde por apoio a 70% das decisões clínicas do país, influenciando desfechos e resultados econômicos da assistência à saúde”, reforça.
Sobre os números de procedimentos laboratoriais com resultado dentro da faixa de normalidade, classificados como desperdício por alguns gestores de saúde, Shcolnik afirma que “esses resultados, na verdade, devem ser comemorados, num momento em que se valoriza e estimula ações de prevenção e promoção de saúde”.
A pesquisa também aponta o interesse da população em realizar cada vez mais exames, como forma de prevenção a doenças:
Questionado sobre a responsabilidade dos hospitais com relação à prevenção de doenças, Shcolnik diz que eles têm modificado seus processos de assistência, incorporando práticas como incremento do atendimento ambulatorial e investindo em atenção primária, algo que não ocorria anteriormente. “Em ambos os cenários mencionados, o laboratório clínico tem um papel importante, pois fornece informações relevantes que permitem aos médicos identificarem fatores de risco, conformarem diagnósticos e definirem prognósticos e tratamentos, assim como auxiliarem no seu controle”, expõe.
Metodologia da pesquisa
Foram realizadas 400 entrevistas com moradores da cidade do Rio de Janeiro e de São Paulo, maiores de 18 anos. Nesta população buscou-se ter uma maior participação de pessoas com pelo menos uma entre seis doenças crônicas: cardiovasculares, reumáticas, renais, além de diabetes, tireoide, câncer, (cerca de 83%) e outro grupo sem nenhuma dessas seis doenças (aproximadamente 17%).
Menos é mais
No ano passado, a SBPC/ML aderiu ao Choosing Wisely, iniciativa criada pela ABIM – American Board of Internal Medicine, cujo objetivo é ampliar a percepção dos profissionais da saúde para a importância do uso adequado, consciente e sem excessos de recursos da área e vai ao encontro do conceito “Less is more” ou menos é mais. “Hoje a sociedade já tem uma lista de recomendações, condutas que não devem ser indiscriminadamente adotadas, fazendo com que os especialistas reflitam sobre os procedimentos da nossa atividade”, declara o diretor de comunicação da entidade, Carlos Aita.
Pelo projeto, foi elaborada uma lista de recomendações com cinco itens – também chamadas de Top Five. Cada uma é acompanhada da justificativa e, quando é o caso, das referências em que foi baseada. A SBPC/ML está finalizando pesquisa entre seus associados para divulgar cinco novas recomendações muito em breve. As primeiras Top Five são: não realize triagem para a deficiência de 25-OH-Vitamina D na população geral; não realize exames moleculares para pesquisa de HPV de baixo risco tumoral; não realize exame de VHS (velocidade de hemossedimentação) para caracterização de um processo inflamatório em pacientes ainda sem um diagnóstico definido, solicite uma proteína C-reativa (PCR) para detecção de inflamação aguda; não utilize o exame para dosagem de mioglobina ou CK-MB no diagnóstico de infarto agudo do miocárdio (IAM), ao invés disso, use troponina I ou T; e não realize exame genético da APOE como um teste preditivo para a doença de Alzheimer. As informações completas podem ser baixadas em pdf no link bit.ly/328ym9i.
A SBPC/ML possui um Programa de Acreditação de Laboratórios Clínicos (PALC) desde 1998. Além disso, lançou um Programa de Indicadores Laboratoriais de Qualidade, em 2006, que permite comparar desempenho dos laboratórios, identificando oportunidade de melhoria contínua.
Matéria originalmente publicada na Revista Hospitais Brasil edição 98, de julho/agosto de 2019. Para vê-la no original, acesse: portalhospitaisbrasil.com.br/edicao-98-revista-hospitais-brasil