Por que cair é mais perigoso para um idoso?

Após a queda da apresentadora Ana Maria Braga, 72, em sua casa, em São Paulo, no último domingo (24), o tema voltou ao centro do debate. Apesar de passar bem e não apresentar nenhuma lesão mais grave, é importante destacar que existem várias causas para um idoso cair. Enfraquecimento muscular, perda óssea, diminuição da velocidade de reação e equilíbrio, além de redução da nitidez e clareza da visão, estão entre os fatores que colocam a população com mais de 60 anos no grupo de risco para os acidentes domésticos.

Dados do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), do Ministério da Saúde, indicam que, para cada três indivíduos com mais de 65 anos, um sofre uma queda anualmente e que, para cada 20 idosos que caíram, ao menos um sofre uma fratura ou necessita de internação. Dentre os mais idosos, com 80 anos ou mais, 40% caem anualmente.

Os números preocupam as entidades de saúde, sobretudo em meio à pandemia da Covid-19, em que o longo período de isolamento social levou ao aumento de casos de acidentes em casa entre os idosos. Segundo dados da USP (Universidade Federal de São Paulo), 13% das pessoas com mais de 60 anos caem de forma recorrente, número que chegou a 30% na pandemia.

O médico Paulo Renzo, da CER Ilha do Governador, Emergência do Hospital Municipal Evandro Freire, gerenciado pelo CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas ‘Dr. João Amorim’, no Rio de Janeiro, destaca que o atendimento para este perfil é bastante comum e que essa demanda aumentou significativamente com a pandemia.

“O confinamento, principalmente em relação aos idosos, impacta diretamente no aumento de acidentes domésticos. A nova condição de isolamento social, sem os devidos cuidados para manter a sanidade física e mental, contribui muito para isso. Os idosos deixaram de realizar suas atividades fora de casa e, consequentemente, perdem condicionamento físico e mental. Ganham em ansiedade e depressão”, explica o Dr. Renzo.

Segundo ele, os acidentes e suas consequências são de ampla variedade quanto à complexidade. Entre os casos mais frequentes que chegam à Emergência do Evandro Freire estão os idosos com fraturas e contusões. Em geral, ocasionadas por quedas da própria altura.

“Estamos percebendo também, nestes tempos de pandemia, o aumento de casos de inapetência, depressão e ansiedade”, ressalta o especialista, o que fragiliza e até pode gerar acidentes.

Ao tratar de pacientes idosos, todo cuidado é pouco. “Eles sempre geram preocupações quanto à gravidade, pois a fragilidade é inerente à idade e à complexidade. Então, tratamos e investigamos todos os casos, desde os mais simples aos mais complicados”, reitera o médico. Ele lembra que fraturas e lesões podem impactar seriamente a mobilidade e autonomia do paciente e até deixar sequelas.

Segundo o Dr. Renzo, cuidar do ambiente onde vive a pessoa idosa é muito importante, eliminando do caminho qualquer objeto que possa servir de vetor para acidentes. E cita, como exemplo, manter caminhos livres de tapetes, móveis em excesso, entre outras providências preventivas relacionadas ao manejo da rotina domiciliar.

O médico destaca, porém, que a melhor maneira de manter as pessoas idosas longe das situações de risco é dando atenção a elas, considerando, claro, todos os cuidados necessários ao enfrentamento da pandemia.

“Familiares ou cuidadores devem incluir as pessoas idosas no contexto familiar, participando não só das atividades da casa, como das atividades lúdicas (jogos de quebra-cabeça, palavras cruzadas e leituras). Se houver quintal ou varanda na residência, é importante levá-las para um banho de sol, nos horários apropriados (antes das 10h ou depois das 16h) e, principalmente, reservar um tempo para ouvi-las. Elas têm muita sabedoria, histórias de vida e, certamente, amam compartilhar e reviver suas memórias”, orienta o especialista.

Como proteger o idoso?

Quando pensamos na segurança do idoso dentro de casa, qualquer cômodo pode ser perigoso. Móveis frágeis, objetos de decoração, cadeira bamba, piso escorregadio ou tapetes soltos possuem grande potencial de risco para quedas.

Doenças específicas mais comuns entre idosos, como Parkinson, esclerose múltipla e artroses, além do aumento da probabilidade de uso de medicamentos sedativos, impactam no equilíbrio e na estabilidade, afetando sua segurança no dia a dia.

Quedas (de escadas, cama, pisos molhados etc) e acidentes com utensílios domésticos (facas, pregos e vidros, entre outros), além de queimaduras, são os principais responsáveis por fraturas e lesões, em alguns casos com consequências graves.

Além disso, descuidos com instrumentos de cozinha ou construção podem causar lesões nos vasos sanguíneos, tendões e nervos das mãos, enquanto as quedas podem gerar fraturas que necessitem de intervenção cirúrgica.

Portanto, são recomendadas pelas autoridades de saúde alguns cuidados básicos e adaptações nos ambientes:

– A iluminação de todos os cômodos da casa deve ser reforçada.

– Móveis pequenos, como criados-mudos, servem como sustentação para o idoso, portanto devem estar firmes e, preferencialmente, sem rodinhas.

– Atenção especial a possíveis vazamentos em pias e vasos sanitários, evitando que o piso fique molhado.

– Adequar os principais acessos da casa para evitar que o idoso precise subir e descer escadas com frequência.

– Inserir barras de apoio, principalmente nos banheiros.

– Dar preferência ao uso de pisos antiderrapantes e evitar tapetes.

– Durante o manuseio do fogão, manter os cabos de panelas sempre voltados para dentro e dar preferência a equipamentos com acendimento automático e trava de segurança.

Dr. Renzo frisa que, em caso de qualquer acidente, familiares ou cuidadores devem procurar atendimento médico imediatamente.

Redação

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