Projeto pioneiro oferece curso formar hansenologistas para o Brasil

Em Imperatriz (MA), ação de busca ativa de casos realizada em junho

Começou na segunda-feira (27) o primeiro curso da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH), em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde do Mato Grosso (SES-MT) e Escola de Saúde Pública do Estado do Mato Grosso (ESP-MT), para oferecer a médicos do Sistema Único de Saúde (SUS) o Curso de Especialização em Hansenologia.

A primeira turma tem 20 vagas e o curso integra uma estratégia de enfrentamento para controlar a hanseníase no Estado. As negociações se iniciaram em 2019. O projeto em Cuiabá prevê formação de três turmas de médicos para oferecer atendimento especializado e serem referências em Hansenologia em todas as regiões do Estado. Ao final do curso, a SBH aplicará a prova para obtenção de título de especialista.

“Trata-se de um projeto piloto que será replicado para outras regiões brasileiras. A iniciativa no Mato Grosso está sendo comemorada pela SBH e autoridades de saúde do Estado por ser pioneira, mas também por fazer parte de uma estratégia sustentável, com ações de curto, médio e longo prazos, para controlar efetivamente a doença em todo o Estado”, explica o presidente da SBH, dermatologista e hansenólogo Claudio Salgado.

“O planejamento inclui educação permanente e continuada para equipe multiprofissional que atua nas regiões de saúde do Estado. Em 2023 iniciaremos as ações de matriciamento nas regiões com objetivo de aumentar os diagnósticos, diagnosticar precocemente a doença para evitar agravamento de saúde e surgimento de sequelas incapacitantes e irreversíveis, monitorar os comunicantes da comunidade e o tratamento de cada paciente, além de fortalecer a educação permanente na atenção básica”, explica a diretora da ESP-MT, Silvia Tomaz.

Salgado explica que em todas as regiões brasileiras onde houve capacitação de profissionais de saúde para a hanseníase o número de casos novos notificados cresceu substancialmente. “O que prova a endemia oculta que preocupa os especialistas”, ressalta.

Hanseníase no MT

Mato Grosso apresenta uma das maiores taxa de detecção de hanseníase no Brasil nos últimos anos:

-Em 2019, eram 4.813 pacientes em tratamento ao final do ano, com uma taxa de prevalência 14,08 para 10.000 habitantes.

-Ao final de 2020, 3.382 pacientes estavam em tratamento, com uma taxa de prevalência de 9,59 por 10.000 habitantes – a queda no número de diagnósticos é atribuída à pandemia.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa de prevalência deve estar em menos de 1 caso a cada 10.000 habitantes para considerar a doença sob controle. A hanseníase não pode ser erradicada, mas, assim como muitas outras doenças, controlada para deixar de ser um problema de saúde pública.

“É preciso entender que o Brasil é um país endêmico para a hanseníase e que existe uma endemia oculta porque a doença é subdiagnosticada e frequentemente confundida com várias outras. Por isso, o papel das autoridades de saúde – em todas as instâncias – atualmente é capacitar seus profissionais para aumentar os diagnósticos, enxergar a doença, evitar agravamentos, sequelas e transmissão para alcançar, então, o controle”, explica Marco Andrey Cipriani Frade, dermatologista e hansenólogo, vice-presidente da SBH. “Problema sério no Brasil não é somente a região com alto número de casos notificados, mas também aquelas sem registro da doença ou com poucos diagnósticos”, explica.

Estratégia no MT

A estratégia para alcançar o controle da hanseníase no MT inclui diagnóstico precoce, tratamento adequado, manejo das possíveis reações adversas, reabilitação em tempo oportuno para os casos de perdas da funcionalidade decorrentes da doença, reinserção social e no mercado de trabalho para os adultos com sequelas irreversíveis e zero casos de hanseníase com incapacidades visíveis em crianças (menores de 15 anos).

No Brasil

Ao final de 2019, o país tinha oficialmente 31.685 casos em tratamento – taxa de prevalência de 1,50 a cada 10.000 habitantes, segundo o Ministério da Saúde.

O número de casos em tratamento no final de 2020 no país foi de 22.872 – taxa de prevalência de 1,08 por 10.000 habitantes – uma queda de quase 30% de diagnósticos na pandemia. Isso não ocorre de forma tão significativa quando se trata de doença crônica como a hanseníase que leva de 3 a 10 anos para se manifestar.

O Brasil enfrenta alguns agravantes neste cenário:

  • Índice alto de casos em menores de 15 anos. Como a doença se manifesta após 3 a 10 anos de contaminação pelo Bacilo de Hansen, as crianças estão convivendo com o bacilo desde muito novas, provavelmente com familiares doentes sem diagnóstico e tratamento.
  • Brasil não diagnostica precocemente, a tempo de evitar sequelas. São milhares de pessoas que seguem contaminando outras, passando por inúmeros tratamentos sem resultado e desenvolvendo sequelas que podem incapacitar e tornarem-se irreversíveis. O diagnóstico cura a doença, mas se for tardio não reverte sequelas.
  • Não faltam medicamentos no Brasil. Toda a medicação é doada pela OMS. Porém, a Poliquimioterapia (PQT) utiliza os mesmos antibióticos há 40 anos e é preocupante o índice de falência de tratamento (quando o paciente apresenta bacilos vivos no término do tratamento) ou recidiva (volta da doença depois da alta médica).
Redação

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