Relação entre alimentação e câncer vai da prevenção à sobrevida do paciente

Aproximadamente um terço das mortes por câncer se deve ao estilo de vida e a fatores de risco dietéticos, como altos níveis de massa muscular, baixo consumo de vegetais e frutas, falta de atividade física e consumo de tabaco e álcool. Estes são alguns dos muitos motivos de o COC – Centro de Oncologia Campinas (SP) oferecer gratuitamente os serviços do Setor de Nutrição a seus pacientes. O tratamento contra o câncer exige alimentação adequada e saudável, mas que também respeite a individualidade do paciente.

Em 31 de agosto, quando é celebrado o Dia da Nutricionista, o COC reforça a importância do papel da dieta e da nutrição. Ananda Giovana Cabral Silva, nutricionista da instituição, afirma que na oncologia, está bem estabelecido o peso da alimentação. “Cerca de 5% dos cânceres são atribuídos exclusivamente a fatores dietéticos, sem levar em consideração a obesidade (20%) e o álcool (4%)”, enfatiza.

Ananda é especialista em oncologia, nutrição clínica e comportamento alimentar. Entre as muitas atribuições do trabalho que executa está a de combater a desnutrição em oncologia de forma humana. “A dieta é importante no desenvolvimento dos tumores, pois certos alimentos desempenham papéis protetores devido aos seus compostos bioativos e moduladores. Legumes e frutas fornecem micronutrientes, fibras alimentares e fitoquímicos reduzindo o risco de cânceres da cavidade oral, laringe e faringe”, detalha.

Alimentos minimamente processados, orienta, são vistos como protetores. São eles frutas, verduras cruas, vegetais, raízes, sementes e tubérculos, além de alguns produtos de origem animal. “Esse grupo de alimentos, segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira, deve ser a base de uma alimentação nutricionalmente equilibrada, saborosa, culturalmente adequada e para a promoção de um sistema alimentar social e ambientalmente sustentável”, conta.

Desnutrição

Comorbidade comum e grave no câncer, a desnutrição se apresenta como perda de peso e, principalmente, perda de massa muscular. Resultando em piores resultados clínicos e na redução da qualidade de vida do paciente. Embora muitas vezes seja um dos primeiros sintomas da doença, a desnutrição pode ocorrer em qualquer estágio da jornada do câncer, afirma Ananda. “A prevalência varia consideravelmente de acordo com o tipo de tumor, de cerca de 30% em pacientes com câncer de mama ou leucemia aguda, a mais de 85% em pacientes com câncer de pâncreas, cabeça e pescoço ou gástrico”, informa a nutricionista.

As causas da desnutrição no câncer são multifatoriais, diz. “Uma combinação de sintomas físicos (capacidade funcional diminuída) e psicológicos pode inibir o consumo e a absorção de alimentos. Os pacientes de maior risco de desnutrição são aqueles com tumores do sistema digestivo, cabeça e pescoço e pulmão, nos quais a desnutrição pode ser devido a anormalidades na função gastrointestinal e/ou aumento do metabolismo.”

O estado nutricional do paciente também pode reduzir como resultado do tratamento, o que inclui os procedimentos cirúrgicos, quimioterapia, terapias direcionadas e radioterapia. “Pode haver uma série de sintomas que afetam a ingestão e absorção de nutrientes, dentre eles a boca seca, alteração de paladar, dor para mastigar ou engolir, dificuldade para engolir, engasgos com a alimentação, feridas na boca, falta de apetite, náusea, vômitos, diarreia e constipação”, enumera.

A perda de músculo esquelético prejudica a eficácia do tratamento, aumenta a morbidade e pode reduzir a sobrevida dos pacientes. “Dados de estudos de referência mostram que até 23% dos pacientes com câncer avançado morrem como resultado de desnutrição progressiva, e não como resultado do tumor. A desnutrição e a perda de peso também aumentam o risco de toxicidade limitante da dose com quimioterapia, terapia direcionada e imunoterapia, reduzindo a capacidade dos pacientes de tolerar e completar o tratamento”, detalha.

Consequências

O mau estado nutricional em pacientes oncológicos, explica a nutricionista do COC, pode aumentar o tempo de internação hospitalar, trazer complicações intra-hospitalares e reinternações não programadas. Neste sentido, a identificação e o tratamento precoce de problemas nutricionais trazem melhora no prognóstico oncológico e minimizam os riscos de complicações.

“Vale salientar que a alimentação é um hábito social de confraternização, pacientes com limitações para se alimentar possuem maior predisposição ao isolamento social, devido às variáveis que envolvem a ação de comer. Dentre elas estão as psicológicas, como o estresse de lidar com o tratamento, depressão, ansiedade e raiva, que podem predispor à agravação da desnutrição”.

Tratamento

A avaliação nutricional inicial é fundamental para os pacientes oncológicos, uma vez que qualquer atraso no tratamento pode comprometer os benefícios potenciais das terapias nutricionais e anticancerígenas. As diretrizes nacionais e internacionais recomendam a triagem regular para o risco ou a presença de desnutrição em pacientes com câncer.

“Para adequada eficácia, é essencial a realização do diagnóstico nutricional, para suporte e aconselhamento individualizado, tendo em vista o estado nutricional, sintomas, tratamento, função gastrointestinal, tolerância a alimentação, preferências alimentares, hábitos pessoais, prognóstico e objetivo terapêutico”, acrescenta.

As intervenções nutricionais, como uso de suplementos nutricionais orais, nutrição enteral e nutrição parenteral, ocorrem para mitigar os distúrbios metabólicos, especifica Ananda. “Elas mantêm a massa muscular esquelética e o desempenho físico, reduzem o risco de reduções, interrupções ou modificações de dose de tratamentos anticâncer programados e melhoram a qualidade de vida”, cita.

Dieta saudável

Dietas saudáveis, explica a nutricionista, são amplamente baseadas em alimentos derivados de plantas, predominantemente vegetais e frutas, que são pobres em gordura, especialmente gorduras saturadas, ricos em fibras e que contêm muitas vitaminas, minerais e compostos fitoquímicos (como carotenóides, polifenóis e compostos de enxofre).

“O consumo de vegetais tem sido associado a uma redução geral da mortalidade por câncer entre os sobreviventes de câncer. Entre os  vegetais, as associações mais fortes com a redução da incidência de câncer foram encontradas para vegetais verde-amarelos e crucíferos, o que pode ser devido às propriedades quimiopreventivas dos carotenóides e isotiocianatos, respectivamente. Entre as frutas, as cítricas podem ter um papel protetor relevante contra diversos tipos de câncer devido ao seu alto teor de flavanonas e vitamina C”, detalha.

Redação

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