Terapias alternativas no SUS serão primeiro alvo de novo instituto de defesa da evidência científica

Um grupo de cientistas brasileiros lançará em novembro o Instituto Questão de Ciência, o primeiro no país voltado para a defesa do uso de evidência científica nas políticas públicas.

Entre as prioridades iniciais, os fundadores citam a luta contra a adoção de terapias pseudocientíficas no SUS, como a homeopatia, medicina tradicional chinesa, a imposição de mãos, geoterapia, aromaterapia e florais. Neste ano, chegou a 29 o número de práticas alternativas, sem o rigor científico necessário, oferecidas no sistema público.

“O uso desses tratamentos no SUS é tanto um desperdício de dinheiro público quanto um desrespeito ao cidadão, que se torna vítima de procedimentos ineficazes”, afirma a bióloga da USP Natalia Pasternak Taschner, que será a primeira presidente do Instituto Questão de Ciência. “Infelizmente, há muito a combater, como o movimento antivacinação que chega ao Brasil ou a incompreensão sobre os alimentos geneticamente modificados”.

Outros exemplos de áreas de atuação do Instituto Questão de Ciência serão o processo legislativo, em temas como biodiversidade, patrimônio genético e rotulagem de alimentos, e o combate à desinformação científica na publicidade e na mídia.

O lançamento do instituto será no dia 22 de novembro, em grande evento no Sheraton São Paulo WTC Hotel que contará com palestra do médico e ex-homeopata britânico Edzard Ernst, professor emérito da Universidade de Exeter, cujos trabalhos críticos sobre homeopatia foram cruciais para a eliminação dessa prática das redes públicas de saúde da Inglaterra e Austrália – para isso, Ernst comprou briga até com a família real britânica, ardente defensora da prática.

“A comunidade científica brasileira fez pouco em defesa do senso crítico e do uso da evidência em episódios como o da fosfoetanolamina, em que se prometia uma cura milagrosa contra o câncer, ou na invasão do Instituto Royal, em que ativistas destruíram um importante instituto de pesquisa no interior de São Paulo. Vamos ocupar esse espaço”, afirma o físico Marcelo Yamashita, diretor científico da nova entidade e do Instituto de Física Teórica (IFT) da Unesp. “Temos também que nos manifestar quando pseudociências são ensinadas nas Universidades pois isso significa dar a elas status científicos”.

O instituto terá escopo semelhante ao de seus congêneres britânico (Sense about Science) e americano (Center for Inquiry). Estarão entre as suas linhas de atuação:

1)    O ativismo institucional, por meio do contato direto com tomadores de decisão (como parlamentares, gestão de políticas públicas, magistrados, reitores) e pela manifestação em fóruns como audiências públicas, comissões parlamentares e ações judiciais, cobrando o respeito à evidência científica em todos os processos públicos;

2)    Produção de estudos, pareceres científicos e investigações críticas sobre a adequação das normas e políticas públicas a pressupostos científicos, com eventual lobby pró-ciência nas instâncias cabíveis;

3)    Criação de um Observatório da Pseudociência, um serviço público de “fact-checking” científico que analisará as declarações de autoridades, celebridades e outras figuras públicas sobre ciência, além de anúncios publicitários e conteúdos jornalísticos;

4)    Publicação e disseminação de conteúdos jornalístico, educacional e de letramento científico, além de eventos e ações de divulgação do método científico em escolas, universidades, redações e outros ambientes.

Além de Pasternak e Yamashita, a primeira diretoria do instituto será composta pelo jornalista Carlos Orsi e pelo psicólogo Paulo Almeida. O instituto conta com o apoio dos pró-reitores de pesquisa da USP, da Unesp e da Unicamp, respectivamente os físicos Sylvio Canuto, Carlos Graeff e Munir Skaf, e também do médico Drauzio Varella e de Luiz Vicente Rizzo, do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, além destes cientistas:

–  Alicia Kowaltowski, professora do Instituto de Química da USP;

–  Alfredo Nastari, publisher da Scientific American Brasil;

–  Beny Spira, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP;

–  Carlos Menck, professor do Instituto de CIências Biomédicas da USP;

–  Francisco Nóbrega, professor aposentado do Instituto de Ciências Biomédicas da USP;

–  George Matsas, professor do Instituto de Física Teórica da Unesp;

–  Hamilton Varela, vice-diretor do Instituto de Química da USP de São Carlos;

–  Jacyr Pasternak, chefe do Comitê de Integridade de Pesquisa do Hospital Albert Einstein;

–  José Eduardo Krieger, professor da Faculdade de Medicina da USP;

–  Jézio Hernani Bomfim Gutierre – Diretor-Presidente da Fundação Editora da UNESP;

–  Luis Carlos Ferreira, diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP;

–  Luiz Carlos Dias, professor do Instituto de Química da Unicamp;

–  Marcelo Knobel, reitor da Unicamp;

–  Marcos Buckeridge, presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo;

–  Nathan Jacob Berkovits, professor do Instituto de Física Teórica da UNESP e Diretor do ICTP-SAIFR (International Centre for Theoretical Physics – South American Institute for Fundamental Research);

–  Otaviano Helene, professor do Instituto de Física da USP e ex-presidente do Inep;

–  Paulo Saldiva, diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP;

–  Rogério Rosenfeld, professor do Instituto de Física Teórica da Unesp e Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Física;

–  Ronaldo Marin, professor da Unicamp;

–  Ronaldo Pilati, professor da Universidade de Brasília;

–  Walter Colli, professor do Instituto de Química da USP, ex-presidente da CTNBio.

Redação

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