Transparência ESG na saúde é fruto é de maturidade empresarial

A avaliação positiva de uma empresa hoje não pode levar em consideração apenas seu balanço financeiro ou os resultados de desempenho. Há que se compor um cenário relevante e consistente em que se considerem boas práticas de governança, responsabilidade social, além de cuidados com o meio ambiente em que está inserida. A preocupação com o termo ESG – Environmental, Social and Governance, pode gerar diversos impactos positivos para as empresas e representar, inclusive, uma melhora de seu valor de mercado ao longo do tempo. Para discutir tais práticas no setor de saúde, o evento da Hospitalar Hub em parceria com a Associação Nacional de Hospitais Privados – Anahp, teve o tema ESG – Cenários, oportunidades e desafios, com a palestra de Gláucia Terra, diretora da ONG Global Reporting Initiative, e contou com moderação de Ingrid Cicca, coordenadora do GT Práticas de Sustentabilidade da Anahp e gerente corporativa de Sustentabilidade da Rede D’Or São Luiz. Rodrigo Henriques, especialista em Sustentabilidade da Saúde na Lanakaná Princípios Sustentáveis e Rafaella Dortas, Head of ESG no BTG Pactual, debateram as práticas após a fala da palestrante.

“Quando a primeira empresa nasceu, o ESG nasceu junto com ela”, afirmou Gláucia em relação à crítica recorrente que rotula o modelo como algo novo e recente. O método do relatório Global Reporting Initiative, apresentado pela palestrante, ajuda no diagnóstico por meio de indicadores a compreender o impacto dos negócios em questões críticas de sustentabilidade, direitos humanos e até corrupção, por exemplo. “O balanço patrimonial e a demonstração de resultados são apenas a ponta do iceberg, as boas ações e práticas relacionadas a consumidores, clientes, pacientes, comunidade, meio ambiente e governança seriam a base que não vemos do iceberg. Qualquer problema em um deles podem colocar abaixo a reputação de uma empresa”, alerta Gláucia.

A ferramenta GRI é gratuita e está disponível a todos no site da ONG. Ela se divide em duas partes: princípios e indicadores. Com o uso da ferramenta, as empresas avaliadas fazem o exercício de materialidade, no qual se responde sobre o negócio e o impacto, tanto positivo quanto negativo, que ele produz. “É um diagnóstico e serve como base para saber o que a empresa vai fazer para atender as questões levantadas e mitigar os impactos que ela produz no meio em que está inserida. É preciso ser honesto nessa avaliação”, alerta Gláucia. “Nessas tendências ESG, assuntos complexos são trazidos à mesa, isso exige mudança cultural e transparência. A alta gestão precisa ouvir as bases e se atentar para transparência interna. A transparência externa só vai funcionar bem quando a interna também for resolvida”, aconselha Gláucia.

É uma questão de maturidade empresarial lidar e saber da sua realidade e, ainda, ter coragem de divulgar os resultados. “Um bom diagnóstico é muito importante, mas saber onde se quer chegar é igualmente importante. Isso também torna uma empresa ESG de verdade. E relatórios que só falam bem de si levantam suspeitas. Todos produzem algum impacto, um bebê nasce produzindo impacto. O desafio é trabalhar para a mitigação como um dever de todos”, finaliza Gláucia.

O consultor Rodrigo Henriques, pontuou que “o grande desafio é entender que isso é importante para todos os tamanhos de empresa. Desde pequenos hospitais até as grandes redes. Achar que isso é assunto para empresa grande ou de capital aberto é um erro”. Ainda segundo o consultor, no último ano, apenas 6% dos hospitais da Anahp reportaram o uso do modelo GRI. “É muito baixa a adesão. E são informações importantes a todos.”, diz Rodrigo. Já Rafaella Dortas, do BTG Pactual, ressaltou a necessidade de transparência frente aos dados analisados: “É difícil mostrar e divulgar dados de KPIs em relação ao tema, mas olhamos com carinho quem se mostra no caminho da melhoria. Há uma dignidade nisso”, disse. Segundo ela, empresas com foco em ESG se mostram inclusive mais estáveis e lucrativas no longo prazo do que as que omitem essas informações.

Em um segundo momento do evento, debatedores puderam contribuir com a discussão. Maurício Lopes, vice-presidente executivo da Rede D’Or São Luiz, Andréia Dutra, CEO de Saúde e Educação na Sodexo On-site Brasil, e Roberto Gonzalez, governance officer do Sabará Hospital Infantil, trouxeram contribuições ao assunto falando de suas experiências. Maurício Lopes afirmou que ser ESG é uma demanda de mercado e que a pauta deveria ser abraçada de forma rápida pela sociedade e pelas empresas também. Para alinhar a Rede D’Or aos compromissos, o gestor falou que há foco em prêmios nas equipes. “É uma obsessão nossa, na verdade. É a forma de materializar para as equipes o nosso compromisso. O comprometimento com as causas em que acreditamos”, pontuou.

Já para Andreia Dutra, práticas sociais fazem a diferença e a Sodexo, nesse sentido, não tem a alimentação apenas como negócio, mas como uma causa. “Além do nosso negócio, somos comprometidos em levar bem-estar e qualidade de vida às pessoas, trabalhamos no combate à fome e desnutrição em todos os locais em que atuamos”, disse. Roberto Gonzalez disse que uma comunicação interna forte é capaz de engajar os profissionais da empresa nas causas em que ela acredita. Atualmente, o hospital é parte de uma holding social com quatro iniciativas: o Sabará Hospital Infantil, o Instituto PENSI, a Fundação e a luta pela causa autista. “Cada profissional precisa saber da importância de pertencer tanto ao hospital quanto à Fundação. Fazemos plenárias regulares com o presidente e nelas o diálogo é aberto e transparente”, afirmou.

Os debatedores foram unânimes em afirmar que há impactos positivos em toda cadeia de valor da empresa para quem pratica valores ESG e recomendaram atitude e coragem para seguir adiante nessa jornada em que não há certo ou errado, apenas um caminho rumo a um futuro que depende de cada um de nós.

Para assistir ao debate é necessário realizar o cadastro da plataforma da Hospitalar e ir na área “On Demand”.

Redação

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