Transplantes com células-tronco apresentam resultados positivos no combate à AIDS

Recentemente, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) realizou o primeiro estudo para testar um tratamento em indivíduos infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). A pesquisa foi feita em 30 voluntários, através de um novo coquetel com base de terapia antirretroviral reforçada com outras substâncias, além da adição da nicotinamida – uma das formas da vitamina B3.

Os pesquisadores também desenvolveram uma vacina de células dendríticas – importantes unidades funcionais no sistema imunológico, localizadas no sangue e em órgãos linfoides – que foram capazes de estimular o organismo do paciente a encontrar as células infectadas e destruí-las, eliminando completamente o vírus HIV.

“Essas células possuem a função de capturar micro-organismos prejudiciais e, posteriormente, apresentá-los aos linfócitos T CD8, que aprendem a encontrar e a destruir o vírus presente em regiões do corpo nas quais os antirretrovirais não chegam como cérebro, intestinos, ovários e testículos”, explica Dr. Nelson Tatsui, Diretor-Técnico do Grupo Criogênesis e Hematologista do HC-FMUSP.

Em 2009, médicos publicaram um relatório no New England Journal of Medicine detalhando o caso de Timothy Ray Brown, mais conhecido como “paciente de Berlim”, primeiro homem a ficar livre do vírus da AIDS por meio do transplante de células-tronco, a princípio, destinado para o tratamento de uma leucemia. A doação proveio de um doador que carregava uma mutação genética rara que confere resistência ao HIV.

O primeiro transplante de Brown ocorreu em 2007, no entanto, o sucesso foi parcial. O vírus do HIV sumiu, porém, a leucemia permaneceu. No ano seguinte, em março, Timothy passou por um segundo transplante do mesmo doador. A partir disso, testou negativo consecutivas vezes para a AIDS. Em setembro de 2020, Brown faleceu, aos 54 anos, vítima de câncer.

Já em 2019, outro caso foi divulgado. Intitulado como “paciente de Londres”, o britânico foi submetido a um transplante de células tronco em 2016, por causa de um câncer. Assim como no caso anterior, o doador apresentava mutação genética resistente ao HIV e o transplante trouxe alterações positivas ao seu sistema imunológico.

Passados 16 meses da cirurgia, os médicos do hospital de Londres retiraram o tratamento antirretroviral e, desde então, ele está sem manifestações do vírus. No entanto, os cientistas ainda se referem aos casos como uma remissão de longo tempo e sem a garantia de que a doença não irá retornar ao organismo em algum momento.

Ao que tudo indica, o uso de transplante do sangue do cordão umbilical promove vantagens importantes para o tratamento do HIV em adultos. “É notório os grandes avanços por meio do uso das células-tronco, no entanto, este tipo de procedimento é recomendado para doenças hematológicas graves. Quando possível, a escolha do doador de medula, que carrega uma mutação genética que confere resistência ao HIV, para um paciente com HIV, como em qualquer outra circunstância, necessita da compatibilidade e carrega também grande esperança de sucesso na cura do HIV”, informa o médico.

“Devido ao resultado positivo desses pacientes, que ficaram livres do vírus, a ciência leva em conta a possibilidade de realizar uma alteração genética nas células-tronco autólogas de pacientes com Leucemia, para que elas obtenham a resistência ao HIV antes de serem reinfundidas com a finalidade de transplante”, conclui Dr. Nelson.

Redação

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