O Hospital Dr. Miguel Soeiro (HMS), pertencente à Unimed Sorocaba (SP), é o único hospital privado, de caráter não filantrópico, do interior de São Paulo autorizada a realizar transplantes autólogos e alogênicos de medula óssea para pacientes cobertos com recursos do Sistema Único de Saúde (SUS).
Isto é feito por meio de verbas conhecidas como extra-teto, ou seja, repassadas diretamente pelo Ministério da Saúde e que, portanto, não impactam o orçamento municipal. Atualmente, os procedimentos pelo SUS já representam a metade de todos os transplantes de medula óssea (TMO) feitos pela Unimed Sorocaba.
“Os transplantes alogênicos são considerados as atividades clinicamente mais complexas que existem”, explica o hematologista, coordenador e responsável pelos transplantes de medula óssea (TMO) no HMS, doutor Robenilson Souza. Os resultados obtidos por sua equipe estão no mesmo nível que bons centros transplantadores internacionais.
O atual coordenador da Quimioterapia do Hospital Dr. Miguel Soeiro, doutor Júlio Prestes, explica que, para um entendimento básico de todo o procedimento, o TMO pode ser compreendido como a parte intermediária do tratamento do paciente oncológico.
“No caso dos transplantes autólogos, o paciente é submetido a um tratamento denominado ‘quimioterapia em altas doses’, que trata a doença, mas gera um efeito colateral de depleção das células da medula óssea. Por isso, antes dessa etapa, células da sua própria medula são coletadas, passam por um tratamento laboratorial e, logo após o término do tratamento quimioterápico, é feita a reinfusão das mesmas, como se fosse uma transfusão de sangue comum”, explica.
O início
O primeiro procedimento dessa natureza realizado pela Unimed Sorocaba aconteceu em 13 de janeiro de 2011, beneficiando uma senhora de 66 anos. Naquele ano, foram feitos outros cinco transplantes de medula óssea (todos autólogos). Já os transplantes alogênicos começaram há três anos. “Tínhamos uma estimativa de fazer 70 transplantes de medula óssea neste ano, entre autólogos e alogênicos. Mas, devido à pandemia, devemos fechar 2020 com uma quantidade entre 50 e 60. Mesmo assim, será mais do que os 49 de 2019”, conta o doutor Robenilson.
Boas perspectivas
Com a posse do novo Conselho de Administração da Unimed Sorocaba, no final de julho, presidido pelo doutor Gustavo Ribeiro Neves, o Centro de Transplantes da Unimed Sorocaba deverá ganhar novo impulsionamento em termos de investimentos e, consequentemente, quantitativos. “Temos uma meta de realizar 100 transplantes por ano”, revela o doutor Robenilson.
Essa perspectiva deverá atrair pacientes de outras partes do país, sobretudo clientes do Sistema Unimed. A Unimed Sorocaba foi pioneira dentre todas as Unimeds no país – cerca de 360 – a realizar TMO. Dada sua grande complexidade, somente duas outras Unimeds (no Rio de Janeiro e Ceará) possuem projetos locais de transplantes alogênicos.
Novos investimentos na área
“Atualmente, na área de transplantes, atendemos pacientes que são clientes desta Unimed, de outras operadoras de planos de saúde e do SUS. O Hospital Dr. Miguel Soeiro tem uma estrutura completa e pronta para a realização de transplantes de medula óssea, hepático, renal, cardíaco, ósseo e de córnea. Nosso objetivo é consolidar esses serviços, ampliar a atuação em nossa região e nos tornarmos uma referência nacional nessa área”.
Segundo o gerente médico do HMS, doutor Paulo Góes, o objetivo é mesmo o de tornar o transplante de medula óssea um serviço de referência nacional, assim como ampliar ainda mais a estrutura para todos os transplantes. “Estudamos estruturar alguns espaços já existentes numa unidade de transplantes, contando com uma equipe que deverá ser formada por profissionais de diferentes áreas, especializados nesse tipo de procedimento”, pontua. “Estamos muito voltados à área de transplantes, pois os benefícios comunitários que eles proporcionam são extremamente relevantes.”
Ainda de acordo com o gerente médico do HMS, a Unimed Sorocaba reúne condições para se transformar em referência nacional nessa área. Isso será altamente benéfico em termos sociais e comunitários. “Temos um grande número de profissionais especializados e um hospital de ponta. Havendo viabilidade de manutenção, vamos atender uma população altamente necessitada, o que significa mudar a vida dessas pessoas e engrandecer o nome da Unimed Sorocaba e da própria cidade”, finaliza.
Sem fila de espera no SUS das regiões de Sorocaba e Jundiaí
No que tange os transplantes de medula óssea, a Unimed Sorocaba é o serviço de referência no atendimento dos pacientes SUS das regiões de Sorocaba e Jundiaí, que não registram fila de espera para este tipo de procedimento.
Outro fator importante é que esses pacientes usufruem da mesma assistência e estrutura oferecidas aos clientes da Unimed Sorocaba ou dos particulares. Em outras palavras, eles são atendidos pelo mesmo corpo clínico e multiprofissional; utilizam as mesmas acomodações de internação e a mesma UTI; e têm acesso a medicamentos idênticos.
Praticamente, o fim da angústia de um doador compatível não-aparentado
Quando surge a necessidade de um transplante alogênico de medula óssea, geralmente em casos de leucemias e linfomas, uma grande dificuldade era encontrar um doador 100% compatível.
Essa era, sem dúvida, uma das maiores angústias dos pacientes, pois irmãos (filhos dos mesmos pais) costumam apresentar cerca de 25% de probabilidade de serem totalmente compatíveis entre si.
Com a redução do número de filhos por casais atualmente, estima-se em 30% a chance de encontrar-se um doador totalmente compatível entre familiares.
Assim, quando não se identificava um doador na família (os chamados aparentados), recorria-se aos bancos de doadores de medula existentes pelo mundo. As chances de encontrar a compatibilidade plena eram escassas e chegavam a ser estimadas em uma para cem mil.
De acordo com o doutor Robenilson, há cerca de cinco anos, uma nova modalidade de transplante alogênico, denominada transplante haploidêntico (em que há apenas “metade” da compatibilidade entre doador e receptor), tem se tornado viável e atraente. Nesta modalidade, os doadores podem ser parentes, como irmãos, que gozem de compatibilidade parcial, ou mesmo o pai, a mãe ou filhos do paciente, que necessariamente já serão “meio” compatíveis.
Portanto, desde que dentro dos critérios necessários em relação à idade e condições de saúde do doador, tornou-se quase universal que encontre-se um doador no núcleo familiar do paciente.
No Brasil, a modalidade haploidêntica começou a expandir-se há, aproximadamente, dois anos. “Desde o ano passado, o Hospital Dr. Miguel Soeiro já realiza transplantes de medula óssea haploidênticos”, explica o doutor Robenilson. “Hoje, a maioria dos TMOs alogênicos feitos no mundo encaminham-se para a modalidade haploidêntica, dada a facilidade de encontrar-se doadores familiares, a rapidez com que isto é feito e os bons resultados que se tem obtido”, enfatiza.
Transplante de medula óssea
Também chamado de Transplante de Células-tronco Hematopoiéticas (TCTH), o TMO é a substituição da medula óssea original, destruída por conta de tratamentos como os de quimioterapia e/ou radioterapia, por um enxerto contendo células capazes de proliferarem-se e restaurarem as linhagens de células sanguíneas (hemácias, plaquetas e leucócitos).
O enxerto pode ser originário do próprio paciente (TMO autólogo), colhido antes da destruição da medula óssea original, ou de outro doador compatível (TMO alogênico), aparentado ou não. A fonte do enxerto pode ser originada diretamente da aspiração da medula óssea (coleta cirúrgica); coletada do sangue de cordão umbilical ou obtida do sangue periférico por procedimento de aférese (método mais frequentemente empregado).