Teste genético confirma diagnóstico de retinoblastoma e reduz risco de mutação na próxima geração

Quando o assunto é retinoblastoma, tipo de câncer que é mais comum na primeira infância, o ponto central é o gene RB1. Presente no DNA de todas as pessoas, este é um gene da categoria “supressor de tumor”, ou seja, com a capacidade de corrigir os erros no código genético que podem levar ao desenvolvimento de câncer. No entanto, quando o gene RB1 sofre uma mutação patogênica, ele perde a sua principal capacidade, que é a de regular o ciclo de divisão celular. Se aproveitando desta falha é que o retinoblastoma surge.

Os primeiros sinais de retinoblastoma podem ser percebidos ao se observar os olhos da criança, sendo que os principais são o olhar cruzado ou um sinal branco na pupila (leucocoria) em retrato feito com flash ou exposto à luz. A partir da suspeita, é indicada a realização de um teste genético, que investigará a presença de mutação no gene RB1 para confirmar o diagnóstico.

Em 60% a 70% dos casos, esta mutação surgiu de forma esporádica, ou seja, não foi herdada do pai ou da mãe e sim, após o nascimento, uma célula sofreu mutação e passou a se multiplicar descontroladamente. Portanto, duas em cada três crianças com retinoblastoma não têm a mutação no gene RB1 em todas as células do corpo. Normalmente, esses pacientes desenvolvem a doença após o primeiro ano de vida e em apenas um dos olhos. Em uma porção muito pequena de retinoblastomas não hereditários não há mutação no gene RB1. Alguns desses retinoblastomas parecem ser causados por alterações em outro gene, conhecido como MYCN.

Cerca de 30% a 40% dos casos têm como causa uma mutação germinativa (herdada ao nascimento) no gene RB1 em todas as células do corpo. O retinoblastoma hereditário é mais comum em bebês, antes do primeiro ano de vida. Cerca de 90% das crianças que nascem com essa mutação germinativa do gene RB1 desenvolvem retinoblastoma. Outra característica dos retinoblastomas hereditários é que as mutações germinativas geralmente causam tumor bilateral (nos dois olhos) e há também maior risco de desenvolver outros tipos de tumores não-oculares.

A CONTRIBUIÇÃO DA GENÉTICA MÉDICA – Com cerca de 200 a 300 novos casos por ano no Brasil, o retinoblastoma é o câncer ocular mais comum na infância e representa 4% dos diagnósticos de câncer até os 15 anos. Quando diagnosticado precocemente, é uma doença com altas taxas de cura e de preservação da visão da criança, impactando positivamente em sua qualidade de vida. É recomendável que todo bebê faça o teste do olhinho após o nascimento e que este procedimento seja repetido com frequência até os 5 anos de idade, faixa etária mais atingida pelo retinoblastoma.

Caso a criança seja diagnosticada com retinoblastoma, seja ele esporádico ou hereditário, é fundamental que seja acompanhada por um médico geneticista. “O paciente com retinoblastoma têm maior risco de desenvolver outros tipos de câncer ao longo da vida. Além disso, é importante que sejam orientados sobre o potencial risco de gerar um bebê com a mutação em RB1. O risco de transmissão da mutação para o filho(a) é de 50%”, destaca Diego Miguel, médico geneticista e diretor médico da Igenomix Brasil.

Outra importante contribuição da genética médica é a realização do PGT-M, um teste genético pré-implantacional para se prevenir doenças monogênicas (causadas por um único gene afetado), que é o caso do retinoblastoma. Por meio da técnica de Fertilização in vitro (FIV), é analisado o DNA de cada embrião. Embriões livres da mutação genética podem ser preferencialmente selecionados para serem transferidos ao útero da mulher, prevenindo assim a transmissão da mutação no gene RB1.

Redação

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