Considerados inofensivos até alguns anos atrás, os fungos ganham importância crescente na medicina. Isto, tendo em vista a redução das defesas naturais das pessoas, causada por doenças ou medicamentos. Habitantes comuns do meio ambiente (presentes no solo, nas cavernas e no ar), bem como no próprio corpo humano, os fungos – aos poucos – tornaram-se agressivos e estão se espalhando em silêncio provocando infecções graves, resistentes a antifúngicos, e fatais.
Conforme explica a gestora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Santa Rosa, de Cuiabá (MT), a médica infectologista Zamara Brandão Ribeiro, pessoas com a defesa orgânica comprometida correm um risco maior – como é o caso de pacientes com Aids que não tomam remédio, assim como aqueles que estão sob tratamento quimioterápico, sob medicação contra rejeição de órgãos transplantados, uso intenso de vários tipos de antibióticos ou que realizaram procedimentos invasivos em unidades de terapia intensiva (UTIs).
“Quando o paciente não é imunocompetente (com imunidade normal) ou tem alguma doença de base, como diabetes descompensado ou câncer, fez alguma cirurgia abdominal, usou nutrição parenteral ou sondas e cateteres por tempo prolongado, as chances de desenvolverem infecções fúngicas de forma agressiva são maiores. Sem contar que estamos em uma região com importância epidemiológica de fungos endêmicos como é o caso do Paracoccidioidomicose, que é comum em áreas rurais”, ressalta.
DESAFIOS – Neste viés, Zamara destaca a importância do diagnóstico precoce para individualizar as estratégias de tratamento para cada situação clinica. No entanto, muitos hospitais ainda possuem dificuldade em fazer diagnóstico definitivo de doenças fúngicas. Logo, a médica infectologista alerta que os profissionais de saúde têm que pensar mais em doenças fúngicas para que não sejam negligenciadas.
“É muito importante que exista uma equipe profissional que pense em doenças fúngicas e também endêmicas, pois dificilmente vai ser o primeiro diagnóstico em mente. Para isso, é essencial que essa equipe possa contar com um hospital que dê oportunidade de realizar exames – como os de imagem – e um laboratório para fazer o diagnóstico preciso do tipo de fungo a ser tratado. No Santa Rosa, temos a oportunidade de trabalhar com exames diferenciados como, por exemplo, galactomanana e procalcitonina, que auxiliam no diagnóstico e tratamento”, comenta.
Zamara complementa que doenças fúngicas são difíceis de se diagnosticar e ainda há muita subnotificação. Portanto, recomenda-se que o profissional fique atento e colha uma boa história com o paciente. “Faça uma anamnese adequada (histórico de todos os sintomas narrados pelo paciente sobre determinado caso clínico), além do exame físico. Nunca descarte a epidemiologia, que é importante. Nem esqueça que o atraso no início do tratamento antifúngico, após a identificação do fungo invasor, pode afetar significativamente o desfecho clínico”, reforça.
Vale destacar que, na região Centro-Oeste, estão presentes doenças endêmicas como a paracoccidioidomicose, típica de lavouras; a criptococose, transmitida pelas fezes dos pombos; a histoplasmose, geralmente transmitida por morcegos em cavernas. No ambiente hospitalar, entre as mais frequentes, constam casos que envolvem os fungos ligados à imunossupressão, como o Candida (albicans e não albicans), que faz parte da nossa microbiota endógena natural, e o Aspergillus, que está presente na maioria dos ambientes – principalmente, em locais úmidos.