Seguindo sua tradição de premiar descobertas expressivas, largamente comprovadas e que contribuam para esclarecer fenômenos e/ou tenham potencial diagnóstico e/ou terapêutico, o Instituto Karolinska de Estocolmo atribuiu na segunda feira (1º) o Prêmio Nobel de Medicina a um cientista americano e outro japonês que, trabalhando independentemente, fizeram observações relevantes que permitiram o desenvolvimento de formas novas e eficazes de imunoterapia contra o câncer.
Os dois laureados são os drs. James Patrick Alisson (da Universidade do Texas, em Austin) e Tasuku Honjo (da Universidade de Kyoto), ambos imunologistas dedicados à investigação do papel do sistema imunológico na proteção contra o desenvolvimento do câncer. Descobriram que a modulação de algumas proteínas expressas por linfócitos e que inibem a função dessas células (PD-1 e CTLA-4) pode torná-las mais eficazes na eliminação de células neoplásicas. Para a Academia Sueca, “as descobertas seminais dos dois vencedores representam um marco na luta contra o câncer”. “Terapias baseadas nas descobertas deles provaram ser bastante eficazes na luta contra o câncer”, afirma a Fundação Nobel.
O tratamento é inovador porque é direcionado ao sistema imune do paciente, ao invés de atuar diretamente no tumor, tendo sido demonstrado como especialmente eficaz contra o melanoma maligno (um dos tipos mais graves de câncer) e tumores malignos de pulmão e rins, além de linfomas, havendo possibilidades de que tenha ação em muitos outros tipos de câncer. Outro ponto importante de todas as formas de imunoterapia é que tem em geral menos efeitos colaterais do que as terapêuticas anti-neoplásicas tradicionais, representadas em especial pelas diferentes formas de quimioterapia.
A partir das observações dos dois laureados, que se iniciaram na década de 1990, desenvolveram-se anticorpos monoclonais humanizados anti-PD-1 e anti-CTLA-4, que, bloqueando a ação dessas proteínas, vão favorecer o “ataque” e a eliminação de células neoplásicas.
Em nosso país, a Imunoterapia para pacientes com câncer vem sendo usada mais e mais e é preciso destacar o pioneirismo da oncologista clínica Dra. Nise Hitomi Yamaguchi, que durante seu Mestrado em Imunologia e doutorado em Biologia do Câncer na FMUSP, trouxe para o Brasil os primórdios dos conceitos de Imunologia de tumores, tendo realizado o primeiro Congresso Brasileiro de Imunologia de Tumores, com a presença de eminentes cientistas mundiais e criou o primeiro ambulatório da Universidade de São Paulo de Imunologia de Tumores, na época em que a AIDS e o câncer estavam juntos em uma epidemia, nos anos 80. Trabalhando em sua tese no MD Anderson Cancer Center e visitando o Memorial Sloan Kettering Cancer Center de Nova York, a Dra. Nise Yamaguchi, atual Diretora da Associação Brasileira e Paulista de Mulheres Médicas e Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, introduziu no país diversos tratamentos inovadores, fazendo pesquisa clínica de novos anticorpos monoclonais e de novas moléculas com ações no sistema imunológico e na diferenciação celular.
A Dra. Nise Yamaguchi seguiu organizando os Congressos de Imunobiomodulação Internacionais, participando do comitê internacional da American Society of Clinical Oncology, no comitê de Imunologia da American Association of Cancer Research, na Clinical Immunology Society, no IPRI – International Prevention and Research Institute em Lyon e recentemente recebeu o Joseph Cullen Award que deu mérito a toda a sua carreira pela prevenção e detecção precoce do câncer de pulmão, por ter sido essencial na aprovação nas leis de controle do tabaco no Brasil. As pesquisas científicas em câncer de pulmão são as inovadoras na área de imunologia e hoje, já vêm sendo praticadas nos serviços em que atua, nos Hospitais principais de São Paulo e no instituto Avanços em Medicina.
A Imunologia de Tumores pode promover o controle de doenças metastáticas, fazer a regressão de grandes massas tumorais e tem o potencial de fazer com que tumores mais iniciais sejam mais amplamente curados. Destaca-se o pioneirismo na implementação dos tratamentos imunológicos. A compreensão destas técnicas faz com que os oncologistas contem com mais armamentários na luta contra o Câncer no Brasil e no mundo.
Magda Carneiro Sampaio é presidente da Associação Brasileira de Mulheres Médicas -São Paulo e diretora do Instituto da criança da FMUSP