Cannabis medicinal demonstra eficácia contra Burnout, aponta estudo

Há mais de um ano no enfrentamento à Covid-19, médicos, enfermeiros e outros profissionais da área de saúde têm sido impactados pela exaustão. De acordo com estudo realizado por pesquisadores do Instituto D´Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), ao menos um em cada seis profissionais de saúde apresenta sinais de Burnout, esgotamento definido como um transtorno psíquico de estresse físico e mental crônico relacionado a condições de trabalho desgastantes.

Em busca de ações para tratar a questão, uma outra pesquisa, realizada no Hospital Universitário da USP de Ribeirão Preto (SP), indicou que o uso do canabidiol, um composto derivado da cannabis, reduziu sintomas de fadiga emocional em 25% dos voluntários, depressão em 50% e ansiedade em 60%. O resultado da pesquisa foi divulgado na revista JAMA Open Network, da Associação Médica Americana.

O ensaio clínico contou com 120 voluntários, sendo que parte deles recebeu 300 mg diários do medicamento, e outra parcela não recebeu. Todos os profissionais de saúde no estudo passaram também pelo tratamento padrão contra o Burnout, que inclui suporte psiquiátrico e exercícios físicos de baixo impacto.

A neurocirurgiã Patricia Montagner explica que a cannabis medicinal tem potencial no tratamento de diversas doenças, muitas delas graves, refratárias e incapacitantes. A especialista ressalta, porém, a necessidade de esclarecimento acerca do poder terapêutico, para combater o estigma, que prejudica pacientes. “Há inúmeras pesquisas científicas que comprovam os benefícios de medicamentos derivados da cannabis no tratamento de várias doenças, como epilepsia, Parkinson, Alzheimer, esclerose múltipla, dor crônica, transtorno do espectro autista, transtorno de ansiedade e câncer, para listar apenas algumas”, fala. “O canabidiol, também conhecido pela sigla CBD, é extraído da planta da cannabis na forma de um óleo. Assim, como o THC (Tetrahidrocanabinol), que também apresenta propriedades terapêuticas de impacto no manejo de doenças, cujo arsenal farmacológico habitual falha em proporcionar alívio e melhora da qualidade de vida. A falta de informação e o persistente estigma em relação à cannabis são obstáculos graves para o progresso na área da saúde”, acrescenta a médica, que tem em seu rol de atendimentos aproximadamente mil pacientes tratados com cannabis medicinal e é fundadora da WeCann Academy, comunidade global e centro de estudos em medicina endocanabinoide, para capacitação de médicos na terapêutica.

O tema no Brasil ainda é cercado de polêmicas, o que esbarra no avanço do Projeto de Lei 399/15, em tramitação na Câmara dos Deputados e que prevê a legalização do cultivo no Brasil, exclusivamente para fins medicinais, veterinários, científicos e industriais, da cannabis sativa. “Se aprovada, essa lei irá beneficiar milhares de pessoas que buscam incansavelmente por alternativas que lhes reduza o sofrimento e têm na cannabis medicinal uma opção eficaz e segura de tratamento, embasada na ciência”, conclui.

Tratamento com canabidiol é popularizado pela tecnologia

O chef de cozinha Henrique Fogaça, a cantora Beyoncé e o ex-pugilista Éder Jofre são apenas algumas das celebridades que descobriram os benefícios do uso medicinal da maconha. No caso de Fogaça, a paciente é sua filha, que sofre de uma síndrome rara e há 3 anos vem usando o óleo medicinal chamado CBD, extraído da maconha. “E digo pra vocês que graças a planta “sagrada” ela está cada dia melhor, com um semblante de paz, de alegria, sorrindo e sentindo os pequenos prazeres da vida”, disse o chef em suas redes sociais.

Já o ex-pugilista Éder Jofre sofre de encefalopatia traumática crônica e Beyoncé utiliza o medicamento para tratar dor e inflamação, algo mais comum que se imagina. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 30% da população ao redor do mundo sofre com dor crônica, caracterizada pela persistência do desconforto ao longo de dias ou até mesmo meses. No Brasil, a estimativa é de que 37% da população enfrenta esse problema.

Os relatos cada vez mais comuns de que os tratamentos com fitocanabinoides, como o Canabidiol (CBD) e o Tetrahidrocanabinol (THC), ambos extraídos do cânhamo, têm sido eficazes na redução da dor e também de outros distúrbios, tem levado ao aumento do interesse por esse tipo de medicamento.

Mas, além do preconceito, quem deseja iniciar um tratamento desse tipo se depara com outro problema: a dificuldade encontrar profissionais que conheçam e prescrevam o canabidiol. Dos quase 500 mil médicos que atuam em território nacional, estima-se que apenas mil conhecem e indicam tratamento com canabinoides. Desses, 42% estão em São Paulo e Rio de Janeiro. Quem reside em outros Estados praticamente não tem acesso.

Tal desafio vem sendo sanado através do uso da telemedicina oferecido pela plataforma focada em tratamentos com base na cannabis medicinal, Medicina.in. Desde que começou a funcionar, em dezembro de 2020, a Medicina.in já teve 779 agendamentos de consultas. “Em junho, tivemos 40 tratamentos iniciados. Temos dobrado mês a mês as consultas efetivas. A grande procura comprova que o acesso rápido e amplo a estes medicamentos já era esperado há anos pelos brasileiros”, afirma Darwin Ribeiro, sócio da empresa.

A plataforma conta com ferramentas de gestão para os médicos, além de canais que facilitam a comunicação com o paciente. “O tratamento é individualizado, pois para cada pessoa é prescrita uma dose diferente, não há bula. E essa dose vai sendo ajustada conforme a necessidade”, explica o executivo.

A plataforma também tem uma área de apoio para a aquisição do medicamento. Nela, o paciente obtém todas as informações necessárias, passo a passo, para receber a autorização de importação. Segundo Albuquerque, isso foi necessário porque, apesar de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar o uso de canabidiol já há alguns anos, não é qualquer farmácia que conta com o produto na prateleira. “É bom deixar claro que a plataforma não vende, apenas ajuda no caminho, o que agiliza bastante o processo”, ressalta.

A expectativa dos empreendedores é de forte crescimento nos próximos anos. Até porque a demanda é alta. Segundo dados disponibilizados no site da Anvisa, até o final de 2020, 11 mil pacientes tinham licença para usar canabidiol no Brasil. A previsão da agência é chegar a 30 mil este ano e a 100 mil em 2022.

Redação

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