Hospital Santa Cruz realiza cirurgia cardíaca em gestante de 27 semanas

As equipes de cardiologia clínica, cardiologia intervencionista, cirurgia cardíaca e obstetrícia do Hospital Santa Cruz, de Curitiba (PR), realizaram uma cirurgia para correção de um grave defeito na válvula mitral em uma paciente com 27 semanas de gestação. O caso é considerado raro e inovador porque os médicos não utilizaram técnicas de cateterismo convencional ou circulação extracorpórea de sangue – comum nesse tipo de procedimento, porém incompatível com a vida do bebê no útero. Com um pequeno corte e o auxílio de um cateter, a equipe de especialistas conseguiu corrigir o problema e salvar a mãe e a criança.

Segundo o cardiologista do Hospital Santa Cruz, Dr. Valdir Lippi Júnior, a paciente chegou ao consultório com quadros graves de falta de ar e acúmulo de líquido no pulmão, o que colocava ela e o feto em perigo. Como no último trimestre de gestação o volume de sangue circulante na mãe aumenta em até 50%, era preciso fazer o reparo imediatamente. “Antes de fazer o procedimento, passamos dois meses estudando o caso e realizando inúmeros exames, para termos certeza de que o risco era pequeno e não havia contraindicação física para a paciente”, explica Dr. Lippi Júnior, que coordenou o caso.

A equipe médica tentou resolver o problema por meio de um cateterismo convencional, mas “uma rara variação na anatomia do coração da paciente, causada justamente pela válvula fechada e não tratada, impediu esse tipo de acesso”, conforme explica o cardiologista intervencionista Dr. Luiz Lavalle, que compôs a equipe. Sem acesso por cateter e com a impossibilidade de realizar a cirurgia de peito aberto, com uso de circulação extracorpórea, a equipe médica coordenada pelo Dr. Lippi Júnior precisou construir uma solução híbrida e pouco convencional para o caso.

“Fizemos uma abertura pequena no tórax, atingindo a ponta do coração, e entramos com o cateter balão. Fizemos a dilatação em posição invertida e o mantivemos lá dentro com uma guia metálica, algo impensável para a conduta tradicional”, explica Dr. Lavalle. “Conseguimos  com uma técnica de contra-fluxo, que não é usual para esse caso, fazer a expansão da válvula mitral com sucesso”, completa Dr. Lippi Júnior.

A cirurgia foi realizada com o auxílio de mais sete profissionais, entre cardiologistas, hemodinamicistas, cirurgiões e obstetras. “O procedimento demorou cerca de 2 horas. O trabalho sincronizado de todos esses profissionais foi muito importante porque, em caso de alguma intercorrência, teríamos apenas poucos minutos para fazer o parto, colocar a paciente em circulação extracorpórea e corrigir o problema valvar”, destaca o cirurgião cardíaco do Hospital Santa Cruz, Dr. Vinícius Woitowicz, que também participou do procedimento.

Por isso, as equipes de obstetrícia e neonatologia estavam a postos para qualquer emergência. “Preparamos o bebê para a cirurgia da mãe com medicamentos para maturação pulmonar e neurológica. Durante o procedimento realizamos também a proteção abdominal e a monitorização fetal contínua”, descreve o obstetra do caso, Dr. Diego Esteves. O procedimento foi um sucesso, assim como a recuperação da paciente. “Após a expansão da válvula, ela seguiu com a gestação até 35 semanas, quando a cesárea foi realizada”, completa o obstetra.

Entenda o caso

A válvula mitral é responsável por separar o átrio esquerdo do ventrículo esquerdo, impedindo o refluxo do sangue bombeado pelo coração. O defeito pode possuir múltiplas causas, podendo ser desde uma malformação da válvula, infecções ou até sequelas de doenças reumatológicas. Pode ser descoberto em exames de rotina ou após o aparecimento de falta de ar, arritmia e cansaço. Neste caso, foi exatamente o que aconteceu com a paciente, que até então não tinha o diagnóstico.

“Com 33 anos e uma rotina tranquila, a paciente não convivia com os sintomas até receber a sobrecarga natural da gestação, como o aumento de peso e de líquido. Realizamos um procedimento provisório, para que ela conseguisse tolerar a gestação até o final sem gerar riscos, nem para ela nem para o bebê. Em um segundo momento, ela provavelmente terá de fazer a troca da válvula”, aponta Dr. Lippi Júnior.

Redação

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