Pandemia: ainda sem vacina, pacientes com doença renal crônica seguem se expondo ao risco

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que os portadores de doença renal crônica é um grupo de risco para a Covid-19. A doença renal crônica (DRC) já é considerada uma epidemia pelas autoridades de saúde no país. O número de casos vem aumentando de forma acelerada e hoje um em cada dez brasileiros já sofre da doença, segundo estimativa da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN).

Estima-se que haja atualmente no mundo 850 milhões de pessoas com doença renal, decorrente de várias causas. A Doença Renal Crônica (DRC) causa pelo menos 2,4 milhões de mortes por ano, com uma taxa crescente de mortalidade. No Brasil, a estimativa é de que mais de dez milhões de pessoas tenham a doença.¹

Só no Brasil, mais de 20 mil pessoas começam tratamento de hemodiálise ou diálise peritoneal a cada ano. No total, cerca de 133 mil brasileiros dependem de algum tipo de diálise para manter o funcionamento dos rins. Esse número, de acordo com a SBN, cresceu 100% nos últimos dez anos. A situação fica ainda mais grave quando se sabe que cerca de 70% dos portadores de disfunção renal no Brasil ainda não foram diagnosticados.²

Segundo uma pesquisa feita pela Revista Saúde com mais de 1800 entrevistados, mais de 50% alegam que a DRC afeta seu cotidiano de trabalho e vida social. Além disso, entre as três opções de tratamento pelo menos 50% dos pacientes usam a hemodiálise (tratamento intensivo feito em hospitais e clinicas de três a quatro vezes por semana) e só 7% usufruíam da diálise peritoneal (tratamento substitutivo gratuito, feito em casa, que proporciona mais qualidade vida e menos riscos ao paciente, principalmente agora durante a pandemia.)³

Ainda sobre a pesquisa citada acima, outro dado relevante é que entre os pacientes diagnosticados, apenas 2% deles foi apresentado somente para a Diálise Peritoneal pelo médico, enquanto 29% não receberam nenhum tipo de indicação de tratamento. E entre aqueles que iniciaram seus tratamentos com a Diálise Peritoneal, mais de 50% foram em estado de urgência.³

Ana Paula Frazão é paciente renal há mais de 20 anos e utiliza o tratamento da Diálise Peritoneal: “Desde o primeiro dia que iniciei meu tratamento de DP minha qualidade de vida só aumentou. Trabalho de segunda à sexta em um comércio, cuido da casa, da minha filha e faço exercícios físicos e tenho uma vida social tranquila. A Diálise me proporciona uma tranquilidade enorme e com ela me sinto segura para me cuidar e me manter até o transplante.”

No Brasil, segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), mais de 33 mil pessoas aguardam na lista de espera por um transplante. O número de pacientes que aguardam um rim lidera o ranking. A maioria aguarda pela doação de um rim: 21.962. ³¹

A data, idealizada pela International Society of Nephrology (ISN), é comemorada anualmente na segunda quinta-feira do mês de março. Os principais objetivos do evento são aumentar a conscientização sobre a crescente presença de doenças renais em todo o mundo e a necessidade de estratégias para a prevenção e o gerenciamento dessas doenças. Insuficiência renal é a condição na qual os rins perdem a capacidade de efetuar suas funções básicas. Ela pode ser aguda, quando ocorre súbita e rápida perda da função renal, ou crônica, quando esta perda é lenta, progressiva e irreversível.

O diagnóstico é simples e barato e é realizado com um simples exame de creatinina no sangue e a urina rotina, que irão identificar alterações na função dos rins. Os níveis elevados de creatinina no sangue e a alteração na urina indicam necessidade de uma avaliação com o nefrologista.

SUS oferta diálise em casa e mesmo diante do aumento de casos do Covid-19, apenas 8% dos pacientes recorrem a essa alternativa

De acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia, cerca de 120 mil brasileiros não têm a opção de seguir o isolamento social mesmo sendo um grupo de risco. Essa é a realidade dos pacientes de doença renal crônica, que por falta de informação são obrigadas a frequentar clínicas ou hospitais, de 3 a 4 vezes por semana para fazer os tratamentos de reposição renal chamados de diálise, terapia para suprir algumas das funções do rim, como filtrar impurezas do organismo.

Mesmo seguindo as recomendações de distanciamento social e higienização, esses pacientes são obrigados a ficar por quatro horas dentro das clínicas, dividindo o ambiente fechado com outros pacientes, além de muitos deles enfrentarem os desafios da mobilidade urbana e o risco de contaminação na aglomeração do transporte público. De acordo com um estudo feito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o transporte público é, ao lado de hospitais, um dos locais com maior chance de contágio por Covid-19. Outro estudo da FGV estima que só em São Paulo, mais da metade das viagens por motivo de saúde ocorrem por transporte público.

E a informação pode mudar completamente este cenário: existe um tipo de diálise que pode substituir a hemodiálise tradicional, que possibilita que o paciente realize o tratamento na segurança de seu lar, sozinho e é oferecida pelo SUS. Entretanto, pela falta de conhecimento, apenas cerca de 8% do total dos pacientes que convivem com a doença utilizam essa alternativa.

Em outros países da América Latina, esse número chega a 80%, como no México, e 46%, na Colômbia. A alternativa oferece aumento significativo na qualidade de vida, devolvendo aos pacientes a possibilidade de retomarem suas atividades do dia-a-dia, e nesse momento de pandemia, evitando a exposição ao risco de contágio, já que fazem parte do grupo de risco da Covid-19.

A diferença na vida do paciente

Vera, que mora em Brasília e tem de 39 anos só descobriu a diálise peritoneal por meio de um primo, que desenvolveu doença renal devido ao diabetes. “Passei a cuidar dos rins aos 30 anos, quando a função deles já estavam em apenas 35%. Fui encaminhada na época para a hemodiálise, e passei a frequentar uma clínica 3 vezes por semana para fazer o tratamento, que durava 4 horas cada sessão. Pelo desgaste do procedimento, adquiri anemia profunda e passei a trabalhar menos e a evitar fazer atividades físicas, Depois que passei a fazer o tratamento em casa, antes de dormir, lendo livro e assistindo a filmes, e voltei a trabalhar na mesma intensidade que antes e a fazer atividades físicas também. Hoje, caminho 4km por dia e levo uma vida normal”

Qual a diferença entre diálise em casa ou na clínica?

Mais moderna, a diálise peritoneal é um procedimento semelhante à hemodiálise, porém nesse procedimento o processo de filtragem ocorre dentro do corpo do paciente, com auxílio de um filtro natural como substituto da função renal. Esse filtro é denominado peritônio, uma membrana porosa e semipermeável, que reveste os principais órgãos abdominais. O espaço entre esses órgãos é chamado cavidade peritoneal, que recebe um líquido de diálise que absorve a água e impurezas do sangue enquanto ele circula pela membrana, drenando-as para fora do organismo por meio de um cateter (tubo flexível biocompatível).

Fontes:

3.1 site.abto.org.br

Redação

Redação

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.