Uma pesquisa inédita desenvolvida pelo IQG Health Services Accreditation mostra os impactos da Covid-19 nas instituições de saúde brasileiras, entre os meses de março e junho. Foram avaliados 199 hospitais de todo o país, sendo 37 públicos 162 privados. O estudo indica a relação entre o modelo de gestão e a resiliência à crise. Instituições que não seguem padrões internacionais são as que mais sofreram no período.
Para o desenvolvimento do estudo, foi utilizada uma matriz de impacto no sistema de saúde desenvolvida pelo NHS, serviço nacional de saúde britânico. A matriz avalia risco institucional e foi adaptada à realidade brasileira. Foram analisadas 6 dimensões de impacto: objetivos do negócio ou planejamento estratégico, finanças, recursos humanos, segurança, comunicação e serviços.
Todos os hospitais foram avaliados em uma escala de 1 a 5, sendo 1 para o impacto mais baixo e 5 para o impacto mais alto, com danos catastróficos. A pontuação foi dada a partir da análise de dados fornecidos pelas próprias organizações, em mais de 1.200 entrevistas por telefone e 80 videoconferências. Foram ouvidos profissionais da área de Qualidade, Recursos Humanos, Serviço de Controle de Infecção Hospitalar e Diretoria Administrativa e Técnica.
Resultados
Um ponto de atenção é que, diferente de outros tipos de crise, todas as dimensões nos hospitais foram impactadas de alguma forma. A média de impacto nos hospitais pesquisados foi de 2,63.
As médias mais altas são a dos impactos em segurança (2,95) e recursos humanos (2,89). Por estarem muito próximos do nível 3, esses valores apontam danos significativos à saúde psicológica, social e física de pacientes e colaboradores, como também impacto moderado no absenteísmo, turnover e capacitação das equipes. A saúde financeira das instituições também foi avaliada. Os danos nesse aspecto, apesar de mais baixos do que em outras dimensões, também lançam sinal de alerta, atingindo a casa de 2,52.
Em todas as dimensões, houve impacto menor nos hospitais que seguem padrões internacionais de gestão, conforme mostra o gráfico abaixo. Em relação à segurança, por exemplo, hospitais sem acreditação internacional têm média de 2,98, contra 2,86 daqueles que têm acreditação internacional. Na parte de recursos humanos, os valores são de 2,97 contra 2,6; no impacto financeiro, a diferença é ainda maior, 2,63 contra 2,33.
Os números evidenciam que os hospitais, de uma forma geral, precisam adaptar ou reinventar seus modelos de gestão frente à pandemia. “O sistema de saúde não será o mesmo após a pandemia. Os recursos financeiros serão mais escassos, os pacientes farão menos procedimentos, o foco em prevenção será ainda mais importante. Os hospitais brasileiros precisaram rever os seus modelos de negócio, ou correm o risco de não sobreviver no pós-pandemia”, explica o médico Rubens Covello, CEO do IQG.