No âmbito do XIV Congresso Latino-Americano de Dor, ocorrido em Lima, Peru, foi realizado o Primeiro Consenso Latino-Americano sobre Dor Crônica. Esse encontro reuniu 21 representantes de 14 sociedades médicas da região para promover a atualização das diretrizes assistenciais e incentivar sua divulgação e utilização na prática médica, com as novas disposições da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), que pela primeira vez inclui a dor crônica como uma doença em si.
Embora se estime que 39% da população brasileira sofra de dor crônica(1), “há poucas publicações acadêmicas sobre a doença e pesquisas precisam ser promovidas, daí a importância de que essa iniciativa seja reunida e colocada ao alcance de especialistas, para ajudá-los a ter uma melhor abordagem no nível primário”, comenta o Dr. Marco Narváez, presidente da Federação Latino-Americana de Associações para Estudos de Dor (FEDELAT).
Entre os acordos, também foi estabelecida a promoção de uma abordagem multidisciplinar, ou seja, que a dor crônica seja gerenciada a partir das diferentes especialidades médicas relacionadas à dor, para obter melhora em todas as áreas da vida do paciente, uma vez que se trata de uma doença que o afeta não só física, mas também psicológica e socialmente.
Além disso, ressalta-se a necessidade de continuar criando espaços de educação médica contínua em toda a América Latina, e que se priorize cada vez mais a formação em nível de graduação e pós-graduação nas universidades para melhorar a qualidade de vida dos pacientes portadores dessa condição.
Sobre o impacto do que foi concluído, o Dr. Narváez espera que o consenso ‘Dor crônica, uma doença com entidade própria’, “seja uma diretriz fundamental para que cada país, de acordo com suas particularidades, aplique a nova classificação para promover o desenho de políticas que favoreçam a alocação de recursos e, assim, melhorem a prevenção, diagnóstico, controle e tratamento da doença”.
As conclusões desse encontro foram apresentadas durante o III Workshop Latino-Americano sobre Dor Crônica para Jornalistas, uma iniciativa da Grünenthal realizada com o apoio da FEDELAT e do Centro de Educação em Saúde da Universidade de Stanford, que contou também com a participação da Dra. Seema Yasmin, diretora dos programas de Pesquisa e Educação do Centro, bem como finalista do Prêmio Pulitzer e vencedora do Emmy.
O Dr. Narváez destacou a relevância e a necessidade desses espaços de formação “que fortaleçam o trabalho jornalístico para continuar informando adequadamente a população e as autoridades sobre o impacto da dor crônica e a necessidade de trabalhar em conjunto para o bem-estar da sociedade”, finalizou o especialista.
A Dra. Lin Tchia Yeng, médica fisiatra do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP), coordenadora do Curso Interdisciplinar de Dor da USP, foi palestrante no Congresso da FEDELAT. A especialista reforça que “a dor crônica impacta de modo bastante significativo na funcionalidade, no bem-estar, no sono, no psiquismo e na qualidade de vida do paciente. É o que mais afasta as pessoas do trabalho, mas ainda é pouco estudada nas universidades de saúde no mundo todo. Portanto, é fundamental haver uma discussão ampla da fisiopatologia das dores agudas e crônicas, realizar o diagnóstico clínico precoce e adequado das causas e implementar os tratamentos corretos, multimodais e multi ou interdisciplinares, para se prevenir sua cronificação”.
Referências:
(1) de Souza JB, et al. Pain Res Manag. 2017:20174643830 (v0.1)
(2) O ranking é baseado nas vendas da corporação (EURO acc. IQVIA fixo – Status 4º trimestre de 2018) na área dos principais analgésicos com ação central, ou seja, Buprenorfina, fentanila, hidromorfona, hidrocodona, morfina, oxicodona, petidina, tapentadol, codeína, dextropropoxifeno, di-hidrocodeina, tilidina, tramadol