Telemonitoramento já prestou mais de 7 mil atendimentos

Programa da Unoeste tem parceria com Prudente e João Ramalho e oferta serviços de telediagnóstico e teleconsultorias em diversas áreas. Foto: Ector Gervasoni

Idealizado como um meio eficaz para que os cuidados com a saúde fossem mantidos mesmo na fase mais crítica da pandemia de Covid-19, o Telemonitoramento da Unoeste que surgiu num momento de tantas incertezas, continua oferecendo atendimentos multiprofissionais de saúde a pacientes das Estratégias de Saúde da Família (ESFs) de Presidente Prudente e João Ramalho. Inicialmente chamado de Telessaúde – serviço este que, inclusive, foi regulamentado recentemente dentro da Lei Orgânica do SUS –, o hoje Telemonitoramento envolve professores e acadêmicos de vários cursos da área da saúde, e tem como principal objetivo sanar dúvidas de usuários e realizar rastreio de possíveis agravamentos de saúde em quem tem doenças crônicas. Desde que começou, em 2020, já foram mais de 7 mil atendimentos prestados, sendo que somente neste ano mais de 940 teleconsultorias já foram realizadas.

O Telemonitoramento da Unoeste, cuja estrutura física funciona no 2º andar do Ambulatório Médico “Professora Ana Cardoso Maia de Oliveira Lima”, junto a Unidade de Informação 4 da Rede de Bibliotecas Unoeste, funciona como um programa amplo que oferta serviços de telediagnóstico e teleconsultorias em diversas áreas. Por isso dentro dele existem os serviços da telemedicina, telenfermagem e etc. Na prática, é um braço de extensão ligado à atenção primária a saúde, já que o serviço atua sempre em conjunto com as ESFs e Unidades Básicas de Saúde (UBSs).

Em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a universidade oferece um serviço que busca atuar no controle das condições crônicas e na melhoria da qualidade de vida dos usuários. O enfermeiro responsável pelo telemonitoramento, Gabriel Felipe Floriano Santana, revela que os mais de 7 mil atendimentos prestados até agora incluem além dos atendimentos de teleconsultorias, também os rastreios das vacinas de Covid-19, e de vacinas atrasadas de poliomielite e pentavalente em crianças. “São ofertados atendimentos em oito áreas diferentes, sendo elas medicina, enfermagem, odontologia, fisioterapia, nutrição, farmácia, psicologia e biomedicina que abordam os temas de saúde da mulher, saúde do adulto e idoso, saúde da criança e apoio a epidemiologia que são as ações de apoio a Política Nacional de Imunização”, explica ele.

Com atendimentos virtuais, por meio de telefone ou WhatsApp, o serviço é realizado por alunos e professores com o foco no suporte clínico interprofissional a usuários da atenção primária. Em Prudente, segundo a secretária adjunta da Saúde, Danielle Araújo Borsari, a parceria tem priorizado atualmente os usuários cadastrados na UBS do Jardim Guanabara e nas ESFs Vilas Marcondes e Furquim, São Pedro, Guanabara e Alvorada III. “O telemonitoramento auxilia tanto os usuários sanando dúvidas e diminuindo demandas por orientações básicas, quanto auxilia os serviços dos profissionais com orientações e busca ativa. As dúvidas dos pacientes podem ser sanadas principalmente no que se refere a termos técnicos e linguagem e uso correto de medicações”, destacou.

Enfermagem e suas contribuições

No caso da Enfermagem, os alunos atuam no atendimento de adultos e idosos com doenças crônicas, a exemplo da hipertensão e diabetes. “Eles aplicam instrumentos que visam avaliar a condição de saúde e rastreio de risco de doenças cardiovasculares que essa população pode apresentar, sendo eles IVCF-20, IMC e o escore de Framingham. Além disso, trabalham demandas trazidas pelos próprios pacientes”, detalha Gabriel Santana.

Ele mesmo começou a trabalhar no Telemonitoramento da Unoeste ainda na condição de voluntário quando era acadêmico. Continuou no projeto porque desenvolveu um bom trabalho e acredita na eficácia dessa modalidade de atendimento. “Teleconsultas vem ganhando muita força após a pandemia da covid-19 e se aprimorando cada vez mais. Tudo indica que esta modalidade irá crescer muito nos próximos anos. Possibilita também uma melhor instrução sobre o uso da rede de saúde disponível em um município, pois além de serem orientadas nas consultas, as pessoas também podem ligar para saber onde buscar ajuda presencial. Ou seja, o usuário não fica perdido na rede SUS de atendimento. Isso reflete em um ‘desafogamento’ das unidades de saúde devido já estarem sendo acompanhados pelo serviço”, completa.

O telemonitoramento foi um dos aprendizados deixados pela pandemia. É que em razão do distanciamento social no período mais crítico, os encontros e reuniões remotas, por meio do uso das tecnologias, se tornaram frequentes naquele período, abrindo outros precedentes.

Para a coordenadora do curso de Enfermagem, Dra. Larissa Sapucaia Esteves, a telemedicina veio como uma forma possível de cuidado durante a pandemia. “Hoje entende-se que ela não somente é possível, mas extremamente importante para o telemonitoramento das condições de saúde das pessoas, em especial aquelas com doenças crônicas não transmissível. O estudante então, precisa, desde a graduação, compreender que o acesso às pessoas não se faz apenas de forma presencial, que o cuidado pode ser realizado de forma remota, por contato telefônico e para isso não há barreiras. Trata-se da necessidade de ampliar as formas de cuidado”, enfatizou.

Dra. Larissa também entende que o serviço de telemonitoramento não tem apenas o objetivo de desafogar os atendimentos na Rede de Atenção Básica. “A missão não é desafogar o sistema, mas ajudar as pessoas a tomarem boas decisões ao longo do seu tratamento, tais como: o que comer, como tomar um medicamento, porque a atividade física vai ajudar a melhorar minha qualidade de vida. Isso está relacionado com cuidado longitudinal em que o profissional de saúde precisa compreender que as pessoas sempre estarão por perto necessitando de cuidado, e que temos a missão de ajudá-los nas decisões do dia a dia. Então, se elas se mantiverem saudáveis por mais tempo, utilizarão o sistema de saúde de forma racional. Essa é a missão do telemonitoramento”.

E emendou: “Penso que ainda há muito preconceito tanto da população, quanto dos estudantes de estar cuidado por telefone. Mas, quando compreendem a essência dessa maneira de cuidado, passam a considerar essa possibilidade. Vejo médicos e enfermeiros recém formados já trazendo essa possibilidade para suas práticas diárias”.

Fisioterapia em Saúde Coletiva

Já no caso da Fisioterapia, os alunos que fazem a disciplina curricularizada de Fisioterapia em Saúde Coletiva têm a chance de colocar em prática, nesse contato remoto com o paciente, tudo o que aprendem em sala. De acordo com a professora Ana Karênina Dias de Almeida Sabela, esse modelo de disciplina sugerido pelo MEC precisa oferecer um serviço voltado para a população. É a oportunidade então que os alunos têm de construir todo o projeto feito durante o semestre.

“Nós determinamos um público alvo que são os pacientes hipertensos. Eles [estudantes] escolheram o Questionário Internacional de Atividade Física, o IPAQ, que avalia a atividade física das pessoas. Num primeiro momento eles fazem a aplicação desse questionário pra verificarem se as pessoas são sedentárias ou ativas, e num segundo momento eles dão um feedback a essas pessoas para que elas tenham uma orientação de educação em saúde sobre a importância da atividade física pra hipertensão. Então dessa forma os alunos conseguem ter um contato com os pacientes, conseguem ver a necessidade da população e contribuir com as orientações. Isso agrega no conhecimento do aluno, já tendo essa vivência prática”, explica, acrescentando que ao fim do semestre os alunos apresentam todos esses dados para equipes do telemonitoramento ou ESFs, para que tenham acesso a tudo que foi construído durante o semestre.

Atenção Psicossocial 

O serviço de telemonitoramento disponibilizado pela Unoeste também conta com o envolvimento da Psicologia, cujos alunos do curso realizam o cuidado integral longitudinal e remoto a idosos, pessoas com doenças crônicas, gestantes e puérperas. Segundo a professora do curso e responsável pelo acompanhamento desse trabalho, Andreia Duarte Alves, a prática é orientada pelas diretrizes técnicas e princípios da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) no nível da Atenção Primária do SUS. As ações, ainda de acordo com ela, seguem os princípios da Clínica Ampliada, baseando-se na identificação e análise dos determinantes sociais de Saúde. “Nossas atividades são baseadas em documentos como o Guia de Apoio Matricial em Saúde Mental da Estratégia em Saúde da Família e na Referência Técnica do Conselho Federal de Psicologia (CFP) para atuação da Psicologia na Atenção Básica em Saúde”, detalha.

O envolvimento da Psicologia no projeto ocorre desde 2020, fase de maior impacto sanitário e social da pandemia de Covid. Importante explicar que o atendimento realizado pelos estagiários da Psicologia no telemonitoramento não é de psicoterapia, mas sim de atenção psicossocial. “A Psicologia tem oferecido cuidado longitudinal a pacientes encaminhados pelas unidades de saúde do município, especialmente, a pessoas idosas e/ou com doenças crônicas. O trabalho visa, através da escuta qualificada, promover o acolhimento das necessidades integrais em saúde, identificar e avaliar os determinantes sociais de saúde desses usuários, mapeando os fatores que podem ser fortalecidos de forma a ampliar a qualidade das relações familiares, comunitárias, ambientais, econômicas e sociais, orientando estratégias para a promoção de qualidade de vida e bem-estar”, complementa ela.

Em casos em que os estagiários identificam a necessidade de psicoterapia ou atendimento especializado e presencial em Saúde Mental, o encaminhamento a serviços especializados é feito, especialmente para unidades especializadas do SUS, a exemplo dos Caps (Centros de Referência de Atenção Psicossocial) e outros serviços de emergência em saúde mental, além do próprio Serviço-Escola de Psicologia da Unoeste, que também oferece psicoterapia gratuita e presencial. No fim das contas, todos saem ganhando, inclusive os alunos que adquirem muita experiência nesse tipo de orientação.

“O estágio no telemonitoramento é importante para os estudantes de Psicologia por inúmeras razões. Primeiro porque oportuniza uma visão integral de saúde e a clínica ampliada, capacitando para uma prática generalista, transdisciplinar e integrada a outros saberes e às demais políticas públicas. Em segundo, eles têm a possibilidade de desenvolver habilidades necessárias para atuar nas especificidades do trabalho em saúde mental na Atenção básica do SUS, compreendendo a importância de desenvolver uma análise voltada à promoção de saúde coletiva. Em terceiro, desenvolvem o aporte metodológico e ético para atuação psicológica remota, especialmente pela crescente demanda deste tipo de serviço por parte da população”, encerra a professora.

Acadêmicos em formação

A aluna do 3º termo de Fisioterapia, Camille Angélica Pereira da Silva, é uma das atendentes do telemonitoramento. Ela conta que esse é um tipo de trabalho que exige atenção máxima do aluno, mas que contribuí significativamente para sua formação e relação “aluno/paciente”. “Essa experiência é muito gratificante porque além de ter esse contato com o paciente, ainda que por telefone, a gente passa a estabelecer um vínculo de confiança, o que é muito importante nessa relação. Também aprendemos a nos comunicar melhor e contribuímos com orientações diversas para ele melhorar sua qualidade de vida. Isso reflete no aprimoramento da nossa aprendizagem e conhecimento, já que passamos a colocar em prática tudo aquilo que a gente viu em sala de aula”.

Praticamente a mesma opinião é compartilhada pela Isabelly Letícia Jesus Francisco, estudante do 3º termo de Enfermagem. “Ajuda muito porque tudo que a gente aprende na teoria no primeiro e segundo termo, a gente começa a aplicar e analisar o paciente de uma forma muito mais integral do que simplesmente lendo um prontuário. Para o paciente do outro lado da linha também é uma ajuda importante, principalmente pra quem mora sozinho e precisa de um auxílio maior. Como são informações relevantes, a gente consegue fazer esse acompanhamento sem precisar ir até a casa. Muitas vezes o próprio agente comunitário, por uma razão ou outra, não consegue fazer esse papel”.

O acadêmico do 8º termo de Medicina, Renan Fernandes da Cruz, enxerga nessa possibilidade a “quebra de gelo” na interação e diálogo entre estudante e o paciente. No serviço, ele já trabalhou no atendimento voltado para a saúde da mulher, e atualmente presta assistência via telefone a adultos e idosos. “Como a gente teve bastante tempo de Pandemia, a gente perdeu um pouco esse contato de poder conversar com o paciente. E é um trabalho de responsabilidades porque quando estamos aqui estamos lidando com vidas, por isso a gente reverte aquilo que já aprendemos e absorvemos pra poder investigar a saúde desses pacientes. E os pacientes, principalmente os mais idosos, gostam desse contato, de conversar um pouco com a gente. É bem interessante”.

Os contatos das centrais de atendimento Telemonitoramento e Telessaúde são: (18) 3229-1290 e (18) 99639-2713.

Redação

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