Transplante de fígado oferece nova esperança para pacientes com câncer colorretal

O transplante hepático vem sendo utilizado como alternativa de tratamento para casos de câncer colorretal que apresentam metástase no fígado. O procedimento inovador foi desenvolvido na Noruega e realizado pela primeira vez na América Latina no Hospital São Lucas Copacabana, da Dasa, rede de saúde integrada. A técnica, ainda pouco realizada no mundo, tem sido uma esperança para os pacientes oncológicos.

Segundo o dr. Eduardo Fernandes, cirurgião especialista em transplante de órgãos do abdome do hospital São Lucas Copacabana e, criador do protocolo brasileiro desse tipo de cirurgia, o transplante beneficia pacientes que apresentam lesões metastáticas no fígado que são consideradas inoperáveis.

“O tumor colorretal é muito comum, e, em grande parte da população que apresenta metástase hepática, ele é irressecável porque ocupa uma área muito grande do órgão ou porque as lesões são inúmeras e não é possível removê-las por meio de cirurgia. Até esse novo protocolo, desenvolvido na Noruega, a única opção de tratamento para esses pacientes era a retirada da parte do fígado atingida pelo tumor. Mas quando o câncer tomava todo o órgão, não havia nada mais a ser feito”, explica o dr. Fernandes.

Uma nova solução para um problema frequente

Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) apontam que o câncer colorretal é o segundo mais comum entre homens e mulheres, com mais de 40 mil novos casos por ano, além de ser o terceiro tumor mais letal na população.

Segundo Eduardo Fernandes, no momento do diagnóstico, cerca de 30% dos pacientes já apresentam metástase, e o fígado é o órgão mais acometido (em 80% dos casos). Ou seja, 3 em cada 10 pessoas já apresentam a doença espalhada para esse órgão e outros 30% vão desenvolver metástase hepática no futuro.

É nesse contexto que a substituição do fígado se faz necessária. Contudo, a indicação do transplante obedece a alguns critérios, como aponta Fernandes: “Para estar elegível ao procedimento, o paciente precisa ter operado o tumor primário – no caso, o colorretal – há, pelo menos, um ano, ter lesões metastáticas restritas ao fígado e consideradas irressecáveis e que a doença esteja controlada por quimioterapia.”

Como foi o caso do empresário Fabiano José de Oliveira Rufino Ribeiro, pernambucano de 47 anos que recebeu parte do fígado de seu filho mais velho, Fábio Vítor de Oliveira Rufino Ribeiro, de 22 anos, estudante universitário de publicidade. Fabiano conta que tinha cerca de 80% do fígado lesionado por metástases decorrentes de um adenocarcinoma colorretal já operado em sua cidade natal. Ele chegou ao Rio de Janeiro com seu irmão, seu filho Fábio Vítor e uma irmã que já reside na cidade para realizar os testes de compatibilidade do órgão. E foi o filho que apresentou os resultados de doador potencial mais compatível.

“Perguntei ao Fábio, mais de uma vez: ‘Meu filho, você tem certeza de que quer ser o doador? Se você não estiver preparado, eu vou entender.’ E ele, decidido, nunca teve dúvidas. Disse que seria o doador com certeza. Só posso dizer que tudo no mundo se resume a um ato de amor. Eu jamais me envergonhei de minha doença. Nunca a escondi de ninguém. Enfrentei o câncer com muita fé. Sabia que não seria fácil, mas sempre acreditei na cura. Tenho convicção de que a autoridade médica é constituída por Deus”, ressaltou Fabiano, com lágrimas nos olhos.

Antes do transplante, Fabiano e sua família precisaram fazer algumas pontes aéreas entre Recife e Rio de Janeiro para a realização de consultas e exames a fim de verificar se o caso dele era elegível ao procedimento e compatível com todos os critérios do protocolo brasileiro.

No dia 18 de junho, pai e filho estavam prontos para entrar no centro cirúrgico e realizar o transplante de fígado intervivos, procedimento que durou cerca de sete horas. “Lembro-me da voz do dr. Eduardo na sala cirúrgica, mesmo com todos os ruídos que os equipamentos fazem. Ele me disse com alegria: ‘Fabiano, vitória! Sua cirurgia foi um sucesso’”, enfatiza o transplantado.

Pai e filho passam bem e tiveram alta hospitalar no dia 8 de julho. A família permanecerá em território carioca por algumas semanas para as consultas e os exames de praxe de revisão. Fabiano, que é um homem muito temente a Deus, diz que quando voltar para sua terrinha, onde é muito conhecido, inclusive já foi prefeito da cidade de Bom Jardim, vai ajudar a divulgar a doença e os tipos de tratamento. “Meu caso foi um milagre, é sobrenatural”, finaliza.

Pioneirismo brasileiro

Além de oferecer melhores perspectivas aos pacientes, a cirurgia também coloca o país na vanguarda da cirurgia de transplante de fígado. Ainda são poucos os casos de cirurgias semelhantes realizadas no mundo. “Eu sei que já houve quatro procedimentos nos Estados Unidos e um caso no Canadá, na Turquia e na África do Sul”, conta o cirurgião.

O protocolo adotado no São Lucas Copacabana teve a chancela dos médicos noruegueses, e todo o processo foi feito em parceria com a Universidade de Oslo.

Atualmente, o transplante hepático para tratamento de metástases colorretais só pode ser feito em situações que envolvam protocolos de pesquisa e com doadores vivos.

Sucesso no tratamento também depende da especialização

Como o primeiro médico a realizar o transplante hepático para o tratamento de metástases colorretais na América Latina, Eduardo Fernandes afirma que casos de alta complexidade como esses exigem uma equipe multidisciplinar qualificada e um serviço de saúde especializado em transplante e oncologia.

“A estrutura que utilizamos para tratar esses pacientes requer um ecossistema de saúde apto a receber casos de alta complexidade, com uma equipe de hepatologia, oncologia clínica, cirurgia, medicina nuclear e genética e radiologia bem preparada para oferecer o que há de mais atual na medicina mundial, o Transplant Oncology, ou seja, um conceito de tratamento que envolve oncologia, transplante e cirurgia para melhorar a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes, como tem acontecido com os cânceres hepatobiliares, com resultados significativos”, finaliza Fernandes.

Redação

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