Artigo – Hospital e comunidade

Os hospitais sempre fizeram a sua parte na história da sociedade, continuam fazendo, e obviamente, vão continuar fazendo no futuro. Mas não serão como antes. O novo normal também vai transformar o hospital e em um novo pensar das pessoas em relação à saúde, assim como muitos negócios, ramos de atividade e setores. Agrobusiness, combustíveis, construção civil, varejo… Na saúde não vai ser diferente e vai haver uma forte reinvenção a qual, aliás, já está ocorrendo.

Na verdade, em uma pandemia há muitas coisas ruins mas, a galope, também vem coisas boas pela necessidade que urge numa crise. Na medicina, mudanças favoráveis e avanços aconteceram durante as guerras. A pandemia, apesar de tanta tristeza e dificuldade, também traz inovações e mudanças.

Então, é necessário que os hospitais se reinventem. Eu não tenho dúvidas de que o hospital irá mais até a comunidade. Talvez não fisicamente, mas virtualmente. A internet, a telemedicina e a inteligência artificial vão fazer com que a assistência à saúde esteja mais próxima, sem que as pessoas necessariamente precisem ir até os hospitais.

Um exemplo é a Internet das Coisas aplicada no dia a dia. Cada vez mais as pessoas terão vestimentas que vão gerar dados vitais, relógios que medirão a pressão arterial, a frequência cardíaca, identificar se está com febre ou não. A gestante vai ter alguma roupa ou cinto que vai detectar o batimento cardíaco fetal e os movimentos do feto. Automaticamente os dados serão enviados para alguma central de monitoramento que soe um alarme, um sinal, mostrando que a grávida precisa ir até o hospital ou, eventualmente, o hospital ir até ela.

Essa comunicação fácil e rápida vai ajudar muito a ida do hospital até a comunidade. Se não fisicamente, de uma maneira virtual. Entendo que isso vai acelerar os processos, melhorar a prevenção do câncer e de tantas patologias, a detecção precoce de doenças.

O novo hospital terá um pronto-socorro diferente, pois os pacientes terão mais discernimento sobre as situações a serem resolvidas eletivamente com a ida a um consultório. Hoje, por comodidade, preferem ir ao pronto-socorro, mesmo que isso signifique esperar algumas horas para receber atendimento.

Em breve, as pessoas talvez fiquem mais reticentes em ir ao pronto-socorro, como já está ocorrendo pelo receio de contaminação do coronavírus.

Isso tem seu lado bom, pois efetivamente só vai ao pronto-socorro em situações de urgência e emergência, deixando a vaga para quem realmente precisa diminuindo, então, as filas.

Mas também tem o lado ruim, porque as pessoas não vão saber se está na hora ou não, se aquela é uma doença digna de um pronto-socorro ou não. Por isso, as entidades de saúde terão que se comunicar cada vez mais com as pessoas, mostrando e ensinando sobre sinais e sintomas de doenças que podem ser graves. Assim as pessoas terão maior consciência sobre o momento de ir a um pronto-socorro, a um hospital ou de, eventualmente, o hospital ir até ele.

Entendo também que a atenção primária à saúde vai fazer parte do cotidiano das pessoas ou, melhor dizendo, vai voltar a fazer parte do dia a dia.

Os médicos de família vêm crescendo e vão crescer mais. De uma forma global, os especialistas vão continuar existindo, mas o atendimento primário vai vir forte. Aquele profissional que faz tanto o pré-natal, vê a criança nascer e faz a puericultura é o mesmo que cuida do diabético e do hipertenso. A partir daí ele vai controlando, prevenindo, detectando precocemente e, caso a doença não apresente melhora ou cesse a progressão, dá-se início aos devidos encaminhamentos para os níveis diferentes de atenção.

Atenção secundária, terciária, até a quaternária, e tudo mais pode vir a seguir. Mas a atenção primária vai crescer sobremaneira no mundo. Até porque os pacientes vão voltar a ver a importância do médico de família e isso vai reduzir demais o desperdício na saúde.

Quanto a esse momento de pandemia eu tenho dito que nossos heróis não usam capa. Eles usam máscaras, macacões, óculos de proteção e luvas. Acho que a comunidade também reconhece assim, pois olham aquele profissional atendendo com tanto carinho e abnegação.

Logo, haverá uma associação entre o mundo virtual, ágil e preciso de diagnósticos e tratamentos ao carinho e amor, resultando numa grande relação entre os profissionais da saúde e os pacientes. Por parte dos pacientes, prevejo um reconhecimento pela dedicação daquele profissional. E por parte do profissional também imagino uma relação de mais empatia com a comunidade. O conceito de que estamos juntos, que estamos no mesmo barco e que vamos sair dessa vai crescer cada vez mais.

Nossas dificuldades não vamos parar na pandemia. Daqui a algum tempo virão outros desafios. O grande aprendizado de tudo isso é que vamos sair mais fortes porque estaremos juntos.

Dr. Erickson Blun é presidente das unidades da RMC vinculadas ao Vera Cruz Hospital, que incluem o Vera Cruz Casa de Saúde, o Vera Cruz Centro Médico São Camilo, em Indaiatuba, e centros avançados de cuidados específicos distribuídos por bairros de Campinas

Redação

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