Ainda que as dificuldades tenham feito parte da vida do Higor Isaac de Morais Rodrigues, de 17 anos, desde muito cedo, o sorriso largo ressalta a felicidade do jovem após iniciar uma nova jornada rumo à qualidade de vida. Portador de Acondroplasia, condição mais conhecida como nanismo, o paciente é acompanhado pela equipe de ortopedia do Hospital de Caridade São Vicente de Paulo (HSV), em Jundiaí (SP), desde os três meses de idade. O caso sempre foi considerado delicado e avaliado pelos especialistas com cuidado e zelo até a efetivação da cirurgia necessária, inédita na instituição jundiaiense. Em setembro, Higor passou em consulta para avaliação e está muito feliz com a realização do procedimento.
O cirurgião ortopedista e especialista em fixador externo, reconstrução e alongamento ósseo, Dr. Ricardo Fruschein Annichino, explica quais as implicações da rara doença e como foi esse processo. “O Higor era acompanhado pelo ambulatório de ortopedia pediátrica, conduzido pelo Dr. Cléber Moreira, desde os 3 meses, que o viu crescer. Ele apresentava uma deformidade na perna esquerda e a indicação médica era de fazer a correção do membro a fim de não desgastar o joelho, o tornozelo, entre outras consequências. A projeção era de que quando corrigíssemos esse membro, automaticamente, ele iria aumentar de tamanho e, para não ficar desigual, fizemos a correção e o alongamento ósseo nas duas pernas”.
Atualmente, o paciente utiliza o aparelho de Ilizarov, um fixador externo que auxiliou no crescimento do Higor, pois mantém a consolidação do osso estável. “Primeiro, ele começou a corrigir a deformidade e o osso começou a ser formar. Quando houve o alinhamento correto, iniciou-se o alongamento dos membros inferiores. Foram 17 anos até ele ser operado pelo Dr. Ricardo Annichino e Dr. Sidnei Murayama. “O caso dele era complexo por diversos fatores, incluindo a idade. Foi necessário muito estudo do caso até o procedimento acontecer. Essa é a primeira cirurgia desse tipo realizada no HSV. O paciente aumentou 5cm de altura após sua realização. Parece pouco, mas já fez uma diferença enorme na qualidade de vida e autoestima do Higor”, evidencia Dr. Ricardo.
Mesmo não sendo o caso do paciente, Dr. Ricardo fala sobre os desafios da doença e da saúde mental dos pacientes. “Durante a anamnese, perguntamos ao paciente se ele consegue fazer a higiene pessoal. Em muitos casos, o paciente não consegue se limpar sozinho no banheiro, por exemplo, o que pode atrapalhar seu desenvolvimento social, no ambiente de trabalho e na escola. Isso afeta diretamente o emocional, contribuindo até mesmo para uma depressão. Nesses casos pode ser necessário o alongamento dos ossos dos braços também. Depois de tudo, percebo o Higor muito mais feliz e descontraído”.
O especialista conta que o paciente ainda pode alongar mais os ossos no decorrer da vida, mas que também existem riscos para o garoto, como rigidez das articulações. De qualquer maneira, algumas complicações futuras como problemas na coluna vertebral, por exemplo, já foram minimizadas com essa primeira cirurgia de correção de deformidade.
Depois de tanto tempo, além de construir um relacionamento médico–paciente com os profissionais da instituição, o garoto e sua família também conquistaram amigos ao longo dos anos. “Já passei por muitas situações constrangedoras e que me desanimaram durante o tratamento. Podemos citar aqui algumas questões importantes sobre inclusão social. Já sofri muito bullying na escola, quando riam pelas roupas infantis que usava, ou no parque aquático, quando não tive altura suficiente para ir em um brinquedo que gostaria muito de ir. Isso me beneficia muito, fisicamente e psicologicamente. Terei um futuro saudável. Evolui muito nos últimos 7 meses, amadureci e consigo olhar tudo com um novo olhar. Sou muito grato por todo esse atendimento”.
A mãe, Rosineide de Morais Rodrigues, de 55 anos, relembra as adversidades da família em promover ações que facilitassem o dia a dia do filho. “Nós adaptamos tudo para ele, até materiais para estudo e aprendizagem. Não foi fácil, saí do meu emprego para dedicar meu tempo ao meu filho, assim como tantas outras pessoas que também passam por essa situação. Eu fui orientada a procurar pelo São Vicente e me disseram que aqui eu estaria em ótimas mãos, com a melhor equipe que poderia ter. Não me arrependo, porque aqui tive tudo o que precisei, inclusive apoio emocional e carinho dos profissionais”, evidencia.