Festival inFINITO chega a 4ª edição promovendo conversas sobre a vida e a morte

O mundo hoje é habitado por mais de 40 milhões de pessoas em luto. Aos enlutados por entes queridos, somam-se ainda pessoas que também passam pela recriação da própria vida após a perda de rotinas, de sonhos e da vida que existia antes da pandemia de Covid-19. Ao longo dos últimos dois anos, o Movimento inFINITO promoveu dezenas conversas sinceras sobre o luto em suas plataformas digitais. No final de semana de 30 e 31 de outubro, o criador do movimento Tom Almeida, recebe a comunidade formada por quase 40 mil pessoas no 4º Festival inFINITO, quando a morte é falada sem tabu.

“Vimos morrer muita coisa nesses últimos anos. Em algum nível, ouso dizer, todos nós estamos enlutados, deixamos de conviver com uma parte de nós que morreu. O Festival tem se tornado o ponto de encontro de conhecimento e apoio, mais ainda, um tempo no qual podemos ousar pensar a morte de um jeito diferente, como faremos nesse ano, ao conhecer e conversar sobre a inovadora compostagem humana”, explica o idealizador e curador do evento.

A programação é permeada por palestras, conversas e ainda dinâmicas para que os participantes saiam encorajados a promover mudanças em suas vidas, na forma de agir com entes adoecidos, na forma de cuidar de si mesmo e ainda na maneira de encarar os rituais de fim de vida.

PROGRAMAÇÃO

No sábado (30), às 9h30, Robert Neimeyer, Professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Memphis, é o primeiro convidado internacional. Robert atua como diretor do Instituto Portland para Perda e Transição, que oferece treinamento e certificação em terapia do luto. É autor de 30 livros e atua ainda como Editor da revista Death Estudos. Autor de mais de 500 artigos e capítulos de livros, ele está atualmente trabalhando para desenvolver uma teoria mais adequada do luto como um processo de construção de significado.

O convidado internacional será entrevistado por Mariana Ferrão e Tom Almeida, que após a conversa, conduzem a audiência por atividades em prol do luto saudável. “Claro que dói perder alguém. E conduzir esse período com consciência e e cuidado é fundamental para que a pessoa possa estar saudável, apesar da tristeza. O luto precisa ser bem vivido para evitar que novos males, sejam físicos, emocionais ou espirituais sejam desencadeados a partir dessa experiência de dor”, explica Tom.

À tarde, a escritora Julia Jalbut mexe nas estruturas quando o assunto é rituais de passagem. Como fazer de um velório e funeral, algo cheio de significado para a pessoa morta, seus familiares e amigos. “Assim como deveríamos viver de forma singular, deveríamos nos despedir de um jeito único também. Encorajo as pessoas a repensarem a despedida como homenagem”, explica ela, a partir da própria experiência, já que para o velório do pai que adorava mesas fartas, criou um verdadeiro banquete para o velório. “O que causou estranhamento no começo, virou mais uma lembrança doce daquela vida vivida”, completa.

As conversas seguem sobre assunto fundamental e também pouco abordado: a autonomia no processo de morte. Para isso, a advogada especialista em Testamento Vital, Luciana Dadalto participa de um roda de conversas com a radialista norte-americana Diane Rehm, autora do documentário “When My Time Comes” (“Quando chegar a minha hora”, em livre tradução) no qual, a partir da morte de seu marido, a jornalista atravessa o país para examinar em profundidade a ajuda médica na hora de morrer. Ela fala para pessoas de todos os lados da questão, revelando os prós e os contras, os fatos e a desinformação em torno dessa prática do suicídio assistido, que agora é legal em nove estados e no Distrito de Columbia.

O sábado termina com uma inspiradora e inédita fala da Dra. Ana Claudia Quintana Arantes, best seller com o livro “A morte é um dia que vale a pena viver”.

A programação de domingo (31) do Festival inFINITO é igualmente intensa e interessante. A manhã é dedicada a um outro tema que permeou o trabalho de Tom Almeida ao longo deste ano: conversas que curam. Ao lado de Chris Chiofalo, Tom conduziu casais nos quais um dos cônjuges estão em tratamento oncológico em cuidados paliativos, em busca de conversas sinceras que possibilitassem emergir sentimentos e ações regenerativas. O trabalho foi realizado dentro da programação da Casa Paliativa, da Dra. Ana Claudia Quintana Arantes e Ana Michele Soares. O resultado da jornada foi tão inspirador, que a dupla apresenta no Festival as ferramentas para potencializar conversas dos participantes com seus familiares e amigos.

A partir da abordagem da conversa, o Festival inFINITO também toca em um dos assuntos mais delicados para a Humanidade: o suicídio. “Quando alguém morre em decorrência de um ato suicida, a causa mortis costuma virar um grande tabu na família e entre os amigos, podendo ocasionar ainda mais dor”, afirma Tom. A palestra com Karen Scavacini, busca abordar formas de tornar conversas tão desafiadoras, possíveis.

A tarde de domingo é pura inspiração e inovação. A médica indiana paliativista Dra. Sunita Puri aborda a importância das conversas entre médicos e pacientes em momentos do final da vida. Filha de pai poeta, cresceu neste ambiente e diz que se desconectou do universo da poesia durante a faculdade de medicina. Segundo ela, só quando conseguiu se reconectar com o poder e a beleza das palavras pode ser tornar médica de verdade. Após a palestra da Dra Sunita, Tom Almeida convida para a conversa, a Dra. Julia Rocha que é medica de família e comunidade no SUS, trabalha como cantora, compositora, escritora, doula e ativista na luta antirracista e na luta pela saúde pública. É autora do livro Pacientes que Curam.

Na sequência, o Festival inFINITO traz tema absolutamente inovador para os modelos atuais do pós-morte: a compostagem humana. Criadora do método já implementado nos Estados Unidos e ainda não legalizado no Brasil, a ativista. Katrina Spade explica como se dá a compostagem humana, quais os padrões seguros para que essa conduta seja realizada e ainda traz informações ancestrais que indicam que a inovação, não é tão nova assim e sempre foi bastante utilizada em tradições históricas.

A 4ª edição do Festival inFINITO se encerra com uma fala inspiradora de Ana Michele Soares, a AnaMi, criadora do canal Paliativas, autora de dois livros “Enquanto eu respirar” e “Vida Inteira”. AnaMi é uma paciente com câncer metastático em tratamento há dez anos e tornou-se uma ativista da vida, dos tratamentos paliativos e das abordagens multidisciplinares em prol do bem estar das pessoas em todo momento da vida.

Festival inFINITO

O Festival Brasileiro Internacional inFINITO é um dos mais inovadores festivais do mundo. Há quatro anos promove de forma constante e consistente, conversas sinceras sobre viver e morrer. Mexe na ferida com delicadeza porque todo mundo morre mas, curiosamente, quase ninguém conversa com naturalidade sobre isso. O Festival inFINITO é criado para todo mundo que quer fazer a vida valer a pena, pessoas interessadas, profissionais de saúde, pacientes e familiares. Da primeira respirada ao último suspiro. O time liderado por Tom Almeida trabalha para colocar o Brasil entre os 10 melhores países para se morrer. Disso depende uma enorme mudança de paradigma. “Usamos as conversas sinceras como ferramenta para inspirar atuações diferentes dos profissionais de saúde, dos pacientes, das famílias, da iniciativa privada e do poder público”, explica Tom.

O evento será nos dias 30 e 31 de outubro e a transmissão será on-line.

Informações, inscrições e programação completa: festivalinfinito.etc.br

Redação

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