O coração e a Covid-19

O dia 29 de setembro, Dia do Coração, ganha mais um item de atenção neste ano de 2020: a Covid-19. Como se já não tivéssemos números negativos no país com as doenças cardiovasculares, que representam cerca de 1.100 mortes por dia, há outros dois itens que merecem destaque: os cardiopatas integram o grupo de risco relacionado a doença causada pelo vírus, e estudos apontam danos no órgão, mesmo em pacientes já recuperados do novo Coronavírus.

Com o objetivo de obter mais informações e gerar novos conhecimentos sobre o impacto da doença no coração, o InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP) lidera o CoronaHEART (Registro Nacional de Complicações Cardíacas). O estudo inédito brasileiro multicêntrico vai revelar as complicações cardíacas e os efeitos pós-Covid-19 no coração de pacientes que necessitaram de internação, em função da gravidade da doença.

Com participação de 26 centros em todo o país, o estudo iniciado em maio segue em fase de coleta e deve ter seus primeiros números divulgados em novembro. “Acreditamos que vários achados com implicações clínicas relevantes possam ser descobertos a partir do acompanhamento cuidadoso desses pacientes”, diz o Dr. Roberto Kalil Filho, presidente do InCor.

O estudo nacional vai na mesma linha de busca de conhecimento sobre o impacto da Covid-19 no coração em levantamentos internacionais. Dois artigos publicados pela revista médica JAMA Cardiology, alertaram para riscos de sequelas da Covid-19 no coração que, em última instância, podem levar à insuficiência cardíaca. Enquanto um dos estudos documentou a presença do vírus no miocárdio em pessoas que faleceram pela doença, o outro identificou a presença de inflamação no músculo cardíaco e no pericárdio quase três meses depois da cura da Covid-19, mesmo em pacientes que evoluíram com formas mais leves da doença.

De acordo com o cardiologista, os estudos tornaram evidentes a importância do acompanhamento cardiológico não apenas das pessoas que tiveram a Covid-19 em sua forma mais severa e que necessitaram de tratamento intensivo, mas também daquelas que foram acometidas pela doença em grau mais moderado, visto que mesmo estas apresentam sinais de inflamação muito tempo depois da cura.

“Já sabemos do surgimento de complicações cardíacas no decorrer da enfermidade como aumento do risco do infarto, enfraquecimento do músculo cardíaco e trombose”, explica o cardiologista. Os estudos do JAMA identificaram que o problema pode ser ainda mais grave no futuro, “por isso temos que ter toda a cautela e investir em pesquisas e estudos sobre o impacto do vírus no organismo”, pontua Kalil.

O que dizem os estudos do JAMA

O estudo “Associação de Infecção Cardíaca com SARS-CoV-2 em Casos Confirmados de Autópsia da Covid-19”, publicado hoje no Jama Cardiology, descobriu a presença do vírus no coração de pacientes que foram a óbito por pneumonia.

O estudo “Resultados da Ressonância Magnética Cardiovascular em Pacientes Recentemente Recuperados da Doença de Coronavírus 2019 (COVID-19)”, por sua vez, analisou 100 pacientes do University Hospital Frankfurt, na Alemanha, depois de 71 dias de recuperação da doença. Os pesquisadores concluíram que cerca de 78% desses pacientes tinham alterações cardíacas significativas que sugeriam a presença de sinais de inflamação em andamento no miocárdio (músculo do coração) ou no pericárdio (tecido que envolve o coração), independentemente de doenças preexistentes.

Enquanto o primeiro estudo indicou que o coração pode ser impactado pela Covid-19 mesmo quando esse órgão não é o de maior choque na doença, como é o caso na pneumonia, o segundo apontou que os resquícios da Covid-19 podem perdurar por muito mais tempo no coração, inclusive com risco potencial de sua falência no futuro, explica Kalil.

As implicações da inflamação do miocárdio, chamada de miocardite, já são bastante conhecidas na cardiologia. Em grau severo, ela pode causar insuficiência cardíaca, arritmia e, no extremo, morte súbita.

Redação

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