Modelos assistenciais passam por mudanças com Covid-19

A crise de enfretamento ao novo Coronavírus fez com que o setor de saúde ampliasse sua capacidade de transformação e adaptação, atuando contra um inimigo ainda desconhecido. Para fomentar esse debate, o Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp) convidou Leandro Tavares, vice-presidente médico da Rede D’Or São Luiz; Rodrigo Guerra, superintendente executivo da Central Nacional Unimed (CNU); Luiz Eduardo Loureiro Bettarello, diretor- executivo médico e de desenvolvimento técnico da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo e contou com a moderação de Diogo Dias, diretor clínico do Hospital Porto Dias.

Representando uma das principais redes do Brasil, Tavares destacou o quanto a pandemia reafirmou a complexidade do setor de saúde. “Em um mundo pré-pandemia, eram muito comuns discussões binárias de modelos assistenciais. A pandemia trouxe a real dimensão do setor e como é difícil utilizar literatura estrangeira para direcionar as questões de saúde aqui no Brasil”, enfatizou.

Em sua fala sobre o momento de adaptação dos modelos, Bettarello apresentou as principais mudanças promovidas no dia a dia de um dos maiores hospitais do país. “A adequação de estruturas e separação de fluxos, para garantir o atendimento a todos, foram fundamentais. Outro foco foi cuidar de quem cuida de nós, nosso corpo clínico e colaboradores”.

Destacando a cooperação entre o setor, Guerra ressaltou alguns dos principais ensinamentos da pandemia, como a implementação das tecnologias. “A pandemia nos trouxe a capacidade de reagir ao inusitado de forma rápida, além da incorporação de questões que ainda enfrentavam muita resistência, como o home office e o teleatendimento”.

Com o tema da recomendação para adiamento de procedimentos eletivos figurando mais uma vez na imprensa, Tavares ressaltou que realmente precisamos aprender com os erros do início da pandemia, pois a situação fez com que pacientes crônicos interrompessem seus tratamentos, agravando boa partes dos quadros clínicos. “Interromper cirurgias liberam um tipo de leito que os pacientes Covid não usam. Mais uma vez, estão tentando interromper o tratamento dessas pessoas, como se essa fosse a resposta”, finalizou.

Christopher Murray defende em congresso que segunda onda da pandemia no Brasil será em abril

Diante da segunda onda de casos de Covid-19 registrada na Europa e nos Estados Unidos, a população brasileira se vê em alerta. Mas o diretor do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME) e professor na Universidade de Washington, Christopher Murray, acredita que um novo pico só deve ocorrer no Brasil a partir de abril de 2021, e a gravidade vai depender da disponibilidade de uma vacina. A análise foi apresentada durante o Conahp.

O modelo estatístico aplicado pelo IHME para análise de dados da pandemia foi desenvolvido em março, mas já em julho foi revisado e passou a analisar dados do passado recente, tendo capacidade preditiva sobre a próxima semana. O instituto leva em consideração a dinâmica da transmissão, assim como o modelo comportamental humano e dos governos, que leva em conta fatores como uso de máscara, mobilidade (que é possível medir por meio de dados obtidos a partir de celulares), taxa de isolamento social, disponibilização de testes e a sazonalidade.

“No Brasil, a mobilidade medida pelos celulares [que caiu drasticamente no mês de março] aumentou no início de abril. Neste momento, já está bem próxima de antes da Covid-19, apenas 10% a 15% abaixo”, revela Murray. Já em relação ao uso de máscara, o especialista analisa que a taxa de adesão cai conforme o número de casos diminuem. Em novembro, os dados analisados pelo IHME revelam que, das 27 unidades federativas, uma apresenta adesão de 65% a 69% da população, enquanto todas as outras já estão abaixo de 64%.

Apesar disso, por causa da sazonalidade, o número de mortes por pneumonia – um dos indicadores de aumento de casos Covid-19 – tem queda associada à chegada do verão no hemisfério sul. “Os mesmos esforços que funcionam nos meses de verão podem não funcionar no inverno”, explica Murray. “No Brasil, o timing da vacinação é que vai definir quão severa será a segunda onda.”

Para ele, é mandatório que os governos de todos os países reimplementem medidas de isolamento social quando os sistemas de saúde atingirem novamente níveis críticos de ocupação. “A previsão é que o Brasil chegue a 188 mil mortes até 1º de março. Se o uso da máscara for adotado por 95% da população, como acontece em Singapura, 9 mil vidas podem ser salvas até a mesma data”, explica.

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Redação

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